Amanhã faz 40 anos que houve a revolução do 25 de Abril e que a minha vida deu uma volta de 180º. Assim de repente (e à época) para pior. Fartei-me de perder privilégios, que a bem dizer nem sabia que o eram, pois pensava que toda a gente vivia como eu.
Como já várias vezes referi assisti à revolução pela televisão, a preto e branco e de robe aos quadrados, estupefacta, eu e os meus irmãos com tanta gente aos gritos em cima de carros de combate, soldadesca sorridente e barbudos que nunca mais acabavam. Cravos à mistura. Não saímos de casa durante quatro dias. Rapidamente percebi (graças aos neurónios e não a deus) que a liberdade era a melhor coisa que havia no mundo. E que dali para a frente, tudo aquilo que me via a ter de aturar por estar naquela "gaiola dourada" ia pró galheiro. Lá por casa sempre diziam "o futuro a deus pertence". Mas eu sabia que o meu futuro era eu que o ia decidir. E decidi. Graças ao 25 de Abril (e à minha teimosia). Tinha treze anos. E teimosamente repito, hoje aos cinquenta e três, 25 DE ABRIL SEMPRE!
(homem lê o Jornal, sentado num candeeiro público, enquanto a revolução acontece, debaixo dele
Lisboa, 25 de Abril de 1974 - Fotografia de Carlos Gil)
Ainda a propósito do tema já aqui e aqui referido julgo que é importante deixar uma nota - e sim, falo como psiquiatra.
Li no Público que o advogado responsável pela defesa do homicida de Valongo dos Azeites (pediu escusa pouco antes do sucedido) terá declarado "que este deveria ter sido internado para tratamento, logo na altura da condenação". Ora vamos lá a saber, mas internamento para tratamento de quê, a quê e porquê? A lei da Saúde Mental, que prevê a possibilidade de internamentos compulsivos, não se destina a substituir a justiça, antes a ajudar quem precisa de ajuda e não tem capacidade de ajuizar e de se auto-determinar de acordo com o juízo que faz da situação. O eventual diagnóstico psiquiátrico, por si só, não pode servir de álibi para que um qualquer sujeito não responda perante a justiça pelos seus actos e os advogados deveriam conhecer a lei e saber isso, sob pena de ela ser aplicada errada, leviana e injustamente. Não se pode advogar e reforçar o ganho secundário da vitimização, vamo-nos lá deixar de fitas.
Diz a f. que uma das minhas frases preferidas foi em tempos "em frente, em frente que atrás vem gente!". nada como os amigos para nos servirem de memória. não me lembro. nem me lembro de alguma vez lha ter dito. nos últimos tempos, uma das minhas frases tem sido "os factos tendem a obscurecer a verdade". por exemplo, é um facto que me juntei ao Jugular para escrever sobretudo sobre política cultural. isto parece indicar que ela exista neste momento em Portugal... lá iremos. hoje vim só dizer olá e agradecer ao Jugular por me receber. obrigada. aqui estarei a partir de agora.