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José Medeiros Ferreira: continuação da leitura do seu livro

Por que não ouvimos e lemos outros «intelectuais de esquerda» como José Medeiros Ferreira, nos media, antes? Mas podemos ler agora. Continuo a leitura do último livro de José Medeiros Ferreira. Cito-o de novo, a propósito de quem lucrou, e quem não lucrou, com a EUM:

«A União Económica e Monetária (UEM) foi um objectivo necessário no contexto de reunificação alemã e do alargamento a Leste. Tinha de se lançar uma âncora. A Zona monetária é que foi mal concebida, quiçá com reserva mental. A zona euro prejudicou o crescimento da economia portuguesa e nunca mais fomos os mesmos.

Estas negociações para a entrada na serpente cambial e no euro foram das piores da nossa história desde o estabelecimento do padrão-ouro.

Deste modo, a economia portuguesa não só perdeu o volante da política cambial como teve de enfrentar a conversão de um escudo sobrevalorizado que lhe fez perder competitividade externa automaticamente» (p. 144).

 

E a emigração? Acerca da qual intuímos, quando Passos Coelho disse que era preciso emigrar, que havia uma política nesse sentido:

«Por exemplo, a Economia Social patente no “Memorando de Entendimento” é muito claro no seu objectivo de criar condições favoráveis à mobilidade do factor trabalho a fim de se dirigir para os centros de crescimento económico onde exista capital, e abandonar os sectores e as regiões em depressão à míngua de investimento. É uma velha lei das zonas monetárias obrigar o factor humano a seguir a moeda onde ele se encontra (…)

Assim, no ponto que versa o “Mercado do Trabalho e Educação”, as medidas tendem a “facilitar a transição dos trabalhadores em todas as profissões, empresas e factores”, fragilizando deliberadamente o vínculo dos contractos de trabalho, reduzindo os períodos do subsídio de desemprego, e as indemnizações de despedimento. (…).

Os países receptores de mão-de-obra querem receber recursos humanos formados nos países de origem à custa dos orçamentos dos Estados periféricos .  Deste modo o “combate ao défice educativo e ao abandono escolar precoce” fica a cargo da República Portuguesa.

Também a rúbrica “Mercado Habitacional” está cheia de boas intenções, pois é preciso libertar “as famílias” dos pesadelos das prestações mensais (….). “Promover a mobilidade dos trabalhadores” implica , assim, eliminar a compra de casa própria (…). Com as novas leis tudo será mais rápido e feito para fazer circular as pessoas.»

O último magnífico ensaio de José Medeiros Ferreira

Para avivar a memória e o conhecimento da História da integração europeia, apelo a que se leia Não há Mapa Cor-de-Rosa. A História (Mal)Dita da Integração Europeia, magnífico ensaio de José Medeiros Ferreira, brilhante intelectual de esquerda, recentemente falecido, que, infelizmente, não «hegemonizou os media».

Trata-se da última obra deste historiador, que, em 1977, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Constitucional, foi o responsável pela rapidez do pedido de adesão plena à então CEE. Eu, pessoalmente, aprendi muito e aproveito para referir dois episódios relatados no livro. Um deles é o conteúdo do discurso de Pierre Mendès-France, proferido na Assembleia Nacional francesa, em Janeiro de 1957, numa crítica ao Mercado Comum projectado por Jean Monnet. Além de desmentir o argumento de que o alargamento do mercado interno seria por si só sinónimo de aumento do bem-estar geral, este brilhante governante francês disse, de forma profética:

«A abdicação de uma democracia pode ser conseguida de duas formas, ou pelo recurso a uma ditadura interna concentrando todos os poderes num único homem providencial, ou por delegação desses poderes numa autoridade externa, a qual, em nome da técnica, exercerá na realidade o poder político, que em nome de uma economia saudável facilmente irá impor uma política orçamental, social (e) finalmente uma política…» (p. 97).

Aconselhando a ler mais Mendès-France que jean Monnet, Medeiros Ferreira conclui, no final do seu livro:

«O erro inicial foi o da fuga à vontade dos povos e ao escrutínio democrático a nível europeu. Disse-o Mendès-France com clareza (…). O chamado “método Jean Monnet” acabaria por criar um hiato entre a Europa dos oligarcas e dos burocratas e a Europa dos Cidadãos para surgir agora a Europa das Chancelarias. Ora, a Europa das Chancelarias não é um passo em frente em relação à história do continente (…)» (p. 155).

Pelo meio deste excelente ensaio, fica-se também a saber de algo que não é dito nos media, em particular que Cavaco Silva confessou, no II volume da sua Autobiografia, ter sido responsável, na reunião dos governadores dos bancos centrais, de 4 de Abril de 1992, que «fixou a taxa de câmbio do escudo e a consequente entrada no Sistema Monetário Europeu com um valor que prejudicou a competitividade das empresas exportadoras portuguesas». Ele próprio conta que, para ultrapassar um impasse, deu «indicações para que fosse aceite a proposta de compromisso apresentada pelo governador do Banco da Alemanha, Hans Tietmayer de uma taxa de câmbio de 178,753 escudos por ECU» (p. 118)

Por que não foram bombardeadas pelos Aliados as vias férreas para Auschwitz?

 

A SIC Notícias emitiu uma importante entrevista dada ao jornalista Henrique Cymerman, pelo Papa Francisco, onde questionado pelo entrevistador sobre o papel de Pio XII relativamente ao Holocausto, ou Shoah, este desvia a atenção – mal ou bem – para o papel dos Aliados durante a II Guerra Mundial, criticando o facto de estes não terem bombardeado as vias férreas conduzindo ao campo do extermínio de Auschwitz-Birkenau, não impedindo assim a continuação dos massacres e do extermínio nazi. Duas pessoas diferentes falaram-me dessa afirmação, elogiando o Papa por apresentar um argumento, sobre o qual que nunca tinham pensado. Ora, não se trata de uma questão nova, pois desde o final da guerra e a descoberta dos campos do extermínio nazis foi frequentemente colocada e discutida, nomeadamente no seio da historiografia sobre o Holocausto. Num livro editado no ano passado, Portugal, Salazar e o Holocausto, da autoria de Cláudia Ninhos e de eu própria, essa questão é abordada, pelo que publico alguns excertos sobre o tema.

 

A chamada «solução final do problema judaico»

Com o triunfo da posição da SS e da RSHA sobre as outras facções, através da conferência de Wannsee, de Janeiro de 1942, foi posta em marcha a «solução final», em Chelmno e Maidanek. Os motores diesel ali utilizados viriam a ser substituídos pelo Zyklon B, também usados nos outros campos da «operação Reinhardt» de Belzec, Sobibor, Treblinka e Auschwitz-Birkenau, erguido partir de Novembro de 1941 A partir de Wannsee e não mais viriam a ser tomadas decisões sobre matar ou não os judeus, mas, sim, sobre quando e por qual ordem estes deveriam ser assassinados. Dessa forma, não tendo sido o momento da decisão de levar a cabo o Holocausto, a conferência de Wannsee marcou o ponto da decisiva transição entre as deportações quase genocidas e um claro programa político oficial de extermínio.

O certo é que a 25 desse mês de Março, se iniciaram, em toda a Europa ocupada pela Alemanha, as operações genocidas e no Verão a terrível máquina de extermínio já estava plenamente em marcha. Na Polónia, os guetos foram dissolvidos e os seus ocupantes, tal como os judeus de França, Bélgica e da Holanda, começaram a ser deportados para os campos de extermínio. Nas semanas seguintes, cerca de 90.000 judeus, primeiro, homens jovens programados para o trabalho, e, depois, mulheres e crianças, foram enviados do Estado-fantoche da Croácia para guetos no distrito de Lublin e para os campos a Leste. Em 22 de Julho, iniciaram-se as deportações dos judeus de Varsóvia para Treblinka e, em 5 de Outubro, Himmler ordenou a deportação de todos os judeus dos territórios ocupados para Auschwitz. Com o início do funcionamento das câmaras de gás no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em Junho de 1942, os nazis tinham passado à fase aberta do genocídio planificado e sistemático, cujo ponto culminante e derradeiro viria a ser o massacre de meio milhão de judeus húngaros, executados ao ritmo de 10.000 por dia, no Verão de 1944.

Em Dezembro de 1942, cerca de 75% das vítimas do Holocausto já tinham sido mortas e apenas nesse ano foram assassinados 2.700.000 judeus, mais do que em todos os outros anos de vigência do Terceiro Reich. O historiador Raul Hillberg observou o facto de os nazis terem assassinado cerca de 100.000 judeus, no período entre a tomada do poder e o fim de 1940, mas que, no ano seguinte, já tinham morto 1.100.000 judeus, em resultado da guetização, dos massacres periódicos na Polónia e dos assassinatos perpetrados pelos Einsatzgruppen e outras unidades alemãs a leste. Até Março de 1942, contudo, menos de 10% das vítimas do nacional-socialismo tinha morrido, ocorrendo os massacres, sobretudo de judeus e prisioneiros de guerra soviéticos, em Chelmno e na URSS. No entanto, no período entre o começo das mortes em Belzec, em meados de Março 1942, e meados de Fevereiro de 1943, mais de metade de todos os judeus e outras vítimas do nazismo já tinham sido mortos, podendo-se dizer assim que a conferência de Wannsee terá certamente tido um papel galvanizador relativamente aos crimes e aos seus perpetradores.

 

 

What´s new?

Desabafos de Domingo
«Ser de direita já não provoca confrangimento nem má consciência. Não significa necessariamente defender os privilegiados, ser socialmente insensível, retrógrado e reaccionário. Nem sequer o conservadorismo dos costumes. Ser de... direita já não é um sinal de inferioridade intelectual, nem de indiferença à injustiça, ódio à mudança, ou pertença às classes altas. Pelo menos é isto que acham os novos arautos da direita. Por ser de direita, já não perdemos os amigos. Já não nos caem os parentes na lama. E tudo isto é novo. A esquerda tem sido hegemónica nos media, na cultura» (Paulo Moura, Público, 15/06/2014)
Mas será que eu não tenho vivido em Portugal? A esquerda tem sido hegemónica nos media?

Posso também ingenuamente fazer esta pergunta: o que há de novo?

 

O que há de novo, não é que os intelectuais de direita, embora sejam poucos, existam, mesmo se não são provavelmente aqueles - ou todos aqueles - que surgem neste artigo. O que há de novo é que, pelos vistos, tentem passar pelos pingos da chuva, aparentando não terem responsabilidades nenhumas - nem no empobrecimento do País, nem, já agora, na situação do Iraque.

 

O artigo do Público de hoje não deixa de ter uma pérola: «O Expresso contratou-me porque eu sou bom» (Henrique Raposo, o tal que veio "de baixo").

 

Mas - pergunto de novo - não tem sido evidente que a partir do 25 de Abril houve uma democratização social? Foi mesmo, com o Estado social e a democrqacia - sim a democracia política e social, o que de melhor houve nestes últimos 40 anos. Claro que assiste-se ao facto de alguns dos que lucraram, e bem,  com essa democratização, agora não quererem que isso continue para futuras gerações (a não ser para as pessoas da sua família)

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