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Um candidato muito estimulante

É a primeira entrevista de Santana Lopes sobre presidenciais desde a última entrevista de Santana Lopes sobre presidenciais. Santana preferiu gravar esta última entrevista ao Expresso no seu escritório de advogado. Ficámos assim a conhecer um piano de cauda, com o qual ele se entretém enquanto espera pelos clientes e pelas eleições presidenciais, e uma prateleira branca, que funciona como uma espécie de mausoléu da social-democracia à portuguesa, com ephemera de antigas glórias do PPD/PSD, como Sá Carneiro e Durão Barroso.

Sim, tudo indica que Barroso é mesmo passado, pelo menos no que às presidenciais diz respeito. É certo, como reconhece Santana, que «em política, we never know it», ou como diriam os portugueses, em política nunca se sabe. E quando se trata de Durão Barroso, ainda menos: «dele já nenhuma proeza me espanta». Se um dia destes o virmos a treinar o Real Madrid, não se admirem. O problema é que Barroso fugiu para Bruxelas, onde, segundo PSL, «não quis ser acusado de privilegiar Portugal e acabou por deixar a imagem de ter sido absolutamente independente, para usar uma palavra simpática». Marcelo também merece palavras simpáticas, mas infelizmente autoexcluiu-se da corrida: «tem a mania que Guterres é imbatível».

O perfil do próximo candidato presidencial do centro-direita está escrito nas estrelas: «Logo se vê no ano que vem quem é a pessoa mais indicada para fazer bem a Portugal. A regra deve ser essa». Ora, nem Barroso nem Marcelo são as pessoas mais indicadas para «fazer bem» a quem quer que seja. Fazer o bem sem olhar a quem é mais coisa de presidente da Santa Casa da Misericórdia. Então e as sondagens desfavoráveis? «Mário Soares ganhou umas eleições em que partiu nas sondagens com 8%». Claro que a história eleitoral está cheia de candidatos que partiram nas sondagens com 8% e chegaram às urnas com 8%, mas Santana também é especial.

De resto, para o nosso entrevistado, o próximo Presidente da República «deve ajudar sempre o Governo do país». O seu Governo, por exemplo, não foi ajudado pelo Presidente da altura, quando ainda estava na incubadora, e se as coisas tivessem sido diferentes, «acho que o país teria poupado tempo e dinheiro». Neste sentido, Santana defende a tese de que «os países mais desenvolvidos são aqueles em que o Presidente não discute em público com o chefe do Governo», países tão desenvolvidos como o Portugal no tempo do Estado Novo em que o Presidente também não discutia em público com o chefe do Governo.

Santana acha que tem uma «capacidade razoável de arrumar os assuntos em prateleiras» e, a avaliar pela prateleira do escritório, tem mesmo. Arruma Barroso, arruma Marcelo e arruma o seu próprio passado enquanto primeiro-ministro, através de uma «exigente análise desdramatizada do que se passou». Ele é «alguém que amadureceu». «Hoje sabe-se que procurei afastar opções que eram inadequadas com as minhas responsabilidades públicas». (Santana parece estar convencido que foi um lenço na cabeça numa festa da Caras que causou danos à sua imagem, e não tanto o que fez enquanto presidente da câmara ou primeiro-ministro.)

Santana Lopes até já se reconciliou com Jorge Sampaio: «ainda na semana passada encontrei o dr. Sampaio duas vezes e já sorrimos os dois». Realmente, só mesmo o dr. Santana para pôr o dr. Sampaio a sorrir. E o próximo alvo desta política de reconciliação nacional de PSL é quase de certeza José Sócrates. Cavaco pode ter sido «um grande primeiro-ministro no enriquecimento em infraestruturas mas Sócrates teve visão», coisa que realmente Cavaco nunca teve.

Já Passos Coelho não é nenhum «insensível», como por vezes se diz. «Até pela história de vida», diz Santana. Quem é que com uma história de vida toda ela passada no parlamento, na Tecnoforma e nas empresas de Ângelo Correia pode ter falta de «sensibilidade»? E PSL, já falou com ele sobre presidenciais? «Matéria reservada». E com Portas? «Matéria reservada». Ou seja: já falou. Não fala aliás de outra coisa, e até diz que «Guterres seria um candidato muito estimulante para o centro-direita». Mais: ao contrário do que teme Marcelo, para Santana «Guterres não é imbatível». Imbatível só mesmo o próprio Pedro Santana Lopes. Um candidato muito estimulante. Tanto para o centro-direita como especialmente para o centro-esquerda.           

"Dever de sigilo"?

Parece que o Ministério da Saúde recuou na "lei da rolha". Fazer crer que o que estava em causa era uma quebra do "dever do sigilo profissional" é qualquer coisa de fantástico. Se não fosse triste estava aqui a mandar-me para o chão e rebolar de tanto rir.

 

Vamos lá ser honestos, o que estava em causa era impor «aos profissionais de saúde que “salvo quando se encontrem mandatados para o efeito, os colaboradores e demais agentes da (nome do serviço ou organismo) devem abster-se de emitir declarações públicas, por sua iniciativa ou mediante solicitação de terceiros, nomeadamente quando possam pôr em causa a imagem da (nome do serviço ou organismo), em especial fazendo uso dos meios de comunicação social”». Nunca os médicos se insurgiram contra o dever de sigilo profissional, que fique claro.

Areia no cu do outro é vaselina

José Manuel Fernandes mostrou-se muito agastado, no twitter, com um escrito facebookiano da deputada socialista  Catarina Marcelino por causa dos vários erros ortográficos presentes. Depois até referiu  "É. Desculpou-se dizendo-se disléxica...". Ora vamos lá fazer um regresso ao passado, aqui. Não deixa de ter carradas de graça.

 

Adenda: Acabei de ler no FB da Catarina Marcelino "Agradeço as correcções. Já reeditei. Sou disléxica e qdo estou mto cansada acontece. Hoje aconteceu.". Escrito pelo punho da própria ainda torna o "desculpou-se" mais perverso e ruim.

epifania

"Como é que se chegou a esta situação?", perguntou ontem um deputado tonto, numa comissão parlamentar, acerca da situação no Grupo Espírito Santo. Qualquer governante responsável responderia "qué quisso interessa, ó grunho? é preciso é olhar para o futuro, o passado já lá vai, os dias negros da irresponsabilidade socialista e dos descontroles do Sócrates". De facto, a última coisa que interessa é pretender saber "como é que se chegou aqui", que mania portuguesa esta - tão pouco moderna, tão pouco europeia,  tão pouco desenvolvida - de querer saber os motivos e as causas das coisas. Não exatamente portuguesa. De alguns portugueses, pronto. Uns desocupados, preguiçosos, gastadores, chulos que ocupam as cadeiras de S. Bento e não fazem nenhum. Só perguntas parvas. Ora, se S. Exa. o Idiota Estúpido Deputado da Nação (de um partido de esquerda qualquer, não interessa, eles querem todos é tacho) pensasse um bocadinho, saberia que "chegou-se a esta situação" (não é "esta" de hoje, depois da sapiência medico-científica deste governo, é "esta" a outra, aquela em que a esquerda nos mergulhou durante décadas, ou seja, tudo o que está errado em Portugal) por termos vivido acima das nossas possibilidades, Portugal não nasceu para ter um estado social, emprego, saúde, ensino e essas coisas que os comunistas dizem que são do povo mas de que se esquecem sempre dos custos, da perda de competitividade, do desajustamento orçamental, the facts of life, em suma.

Ora bem. Não interessa. O Deputado Chupista perguntou. A Nossa Ministra condescendeu - com aquele ar glorioso de encarnação de N. Sra. num "abençoados os pobres de espírito" (com e minúsculo) - e respondeu. Uma resposta divina. Simples, como todas as tiradas geniais. Eis a transcrição fiel: "Como o nome é o mesmo, há alguma confusão, em Portugal e no estrangeiro, entre o Grupo Espírito Santo e o Banco Espírito Santo. Não é, de todo, a mesma coisa." Está explicado. Elementar, meus caros súbditos. Como é que não perceberam de que tudo isto é apenas um enorme equívoco de nomes? E que os "mercados", essas entidades que é preciso deixar funcionar à vontade sem regulação sufocante mas que de vez em quando é preciso ensinar porque são burros como só eles - digamos que num grau só comparável ao de certos deputados - não perceberam que há uma diferença entre Grupo e Banco? quem diz mercados diz praticamente todo o mundo, excetuando a família Espírito Santo e, pelo menos, pelo menos, a ministra das Finanças. Abençoadinha, Santa, que nos explica as verdades simples e essenciais da vida, a Grande Educadora do Povo.

Só fiquei com alguns engulhos sobre as implicações teológicas de tudo isto. Santíssima Trindade, arianismo, Deus triuno, consubstanciação, controvérsias de séculos. Deus meu, Deus meu, será que terá ocorrido também algum remoto erro elementar de interpretação sobre o que é realmente o Espírito Santo, precipitando os fiéis em cismas e querelas, apenas porque nesses tempos medievais obscuros não havia uma Sta. Maria Luís que os iluminasse?

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