Hoje na SIC Notícias, Marisa Moura (jornalista e autora de "O que é que os Portugueses têm na cabeça?") fez uma revista de imprensa. Tem a preocupação de "explicar as coisas pela raiz" mas não gosta de "estudar livros de História" (tem mais o que fazer, como confessa, embora também diga que não tem "noção nenhuma"). Descobriu que "esta questão do Estado Islâmico", tem a ver com "movimentos que surgiram depois da morte de Maomé" (não fosse alguém pensar que fosse antes). Depois introduz "esta coisa dos sunitas, dos xiitas, os não sei quê". Xiitas? "É uma coisa muito simples", afinal. E explica. Está explicado. São "descendentes" de Ali. Aparentemente, "descendente" e "seguidor" é, para a Marisa, o mesmo. E quem era Ali? Primo e cunhado do Profeta, que disputou a sua sucessão, dando origem a uma cisão no seio do Islão que se mantém até hoje (a tal entre sunitas e xiitas)? Não. Isso pensava eu. Afinal era "aquele senhor dos palácios das histórias dos príncipes das Arábias", "a viver num luxo total que Maomé combatia" (embora este combatesse sobretudo os agiotas ("pessoas que, enfim"). Eu fiquei esclarecido. Isto foi o balanço de 2014. Para 2015, temo o pior.
(adenda: a peça completa pode ser descarregada aqui; e acrescento: foi a Shyznogud quem descobriu isto, eu limitei-me a editar e a publicar o pedaço)
Não tenho certezas sobre de que modo a legislação possa ser alterada quando o assunto é o afastamento do agressor da vítima em casos de violência contra as mulheres, mas sei que a actual situação - é sempre a vítima a ter de sair de casa, sempre - não é sustentável e que a não saída após o crime de violência doméstica está na base de muitas das mortes de mulheres.
António Arnaut enviou um livro a José Sócrates, que foi recusado e devolvido à proveniência pelo Estabelecimento Prisional de Évora. Eu própria enviei pelo correio, a José Sócrates, o meu livro «História da Oposição à Ditadura. 1926-1974» e aconteceu-me exactamente o mesmo: foi-me devolvido, com a indicação «recusado pelo E.P. de Évora».
No dia 15 de Dezembro, a propósito da recusa de autorizar José Sócrates a dar uma entrevista ao «Expresso», pelos Serviços Prisionais, segundo parecer do Juiz e do Procurador, escrevi isto no facebook, que reproduzo, pois vem de novo a propósito:
«O que é de mais é de mais! As pessoas, nas quais me incluo, que lutaram contra a Ditadura de Salazar e Caetano, e que viram eclodir o 25 de Abril, com felicidade, não arriscaram a liberdade e a vida para que hoje, em 2014, seja calada a boca a um preso e muito menos para que um juiz e uns serviços prisionais tenham o poder que têm. Pergunto: isto é possível, é da lei?»
O que quer que se pense do regime de Ceausescu este julgamento, e consequente condenação à morte, foi uma afronta a princípios básicos de decência e justiça.
Este post que escrevi um destes dias deu uma conversa engraçada no meu FB, nomeadamente com o Jorge Gato, um homem assumidamente feminista e estudioso destes assuntos de género (e da parentalidade), que me apetece aqui deixar.
Disse ele a propósito do meu pequeno texto "Chama-se essencialismo bacoco. As diferenças individuais intra superam as inter em termos de género. Mesmo com séculos de patriarcado em cima. Se isto não quer dizer que somos mais semelhantes do que diferentes.... tudo o resto é ideologia." e continuou, depois de eu realçar a importância da afirmação que fizera "Ó pá é só ir ver as meta análises das dezenas de estudos diferenciais que foram feitos ao longo das últimas décadas. E mais, a magnitude do efeito das pequenas diferenças que existiam têm vindo a esbater-se".
Pior ainda é quando se apela ao "biologismo" para sustentar estas temáticas. O Corpo Caloso - por curiosidade, o nome que escolhi para a minha empresa de serviços médicos por ser uma estrutura de comunicação e de partilha de informação inter-hemisférica e por ser único, igualitário e diferir do dos restantes mamíferos -, por exemplo, não tem género, exactamente como os afectos, aliás. Fica o boneco.
Auto-referência: Interpretações erradas de acontecimentos externos aos quais são atribuídos um significado pessoal, habitualmente de prejuízo. Tendem a ocorrer em indivíduos sensitivos em períodos de stress adicional e são geralmente compreensíveis num determinado contexto ou situação do quotidiano, podendo, contudo, constituir-se como precursores de ideias delirantes de conteúdo persecutório e auto-referencial integrantes de patologia major.
O conceito de psicopatia (e o de psicopata) sofreu alterações ao longo dos tempos. De uma maneira simplista poderemos dizer que o seu significado inicial coincidia com o que actualmente se usa para definir perturbação da personalidade. Numa fase posterior passou a designar um tipo particular de perturbação da personalidade.
Foi Kurt Schneider, um psiquiatra alemão, quem provavelmente mais se dedicou à conceptualização daquilo a que chamou “Personalidade Psicopática”, nela englobando todos os desvios da normalidade cujas características nosológicas não eram suficientes para que se considerassem doenças mentais francas, incluindo nesses tipos aquele que hoje entendemos como sociopata ou perturbação anti-social da personalidade. Schneider definia a personalidade psicopática como uma personalidade patológica cujo portador sofria e/ou fazia sofrer a sociedade, distinguindo os seguintes tipos: (1) hipertímicos,(2) depressivos, (3) inseguros, (4) fanáticos, (5) carentes de atenção, (6) emocionalmente lábeis, (7) explosivos, (8) desalmados, (9) abúlicos e (10) asténicos.
Em traços gerais aquilo que hoje se refere como psicopata ou sociopata seriam, na classificação de Schnneider, os “desalmados”, e em termos (e linguagem) mais formais integram a perturbação anti-social da personalidade no sistema classificativo da Associação Americana de Psiquiatria (DSM).
As perturbações da personalidade são situações que interferem com o funcionamento do sujeito porque alteram a apreensão do mundo que o rodeia, a expressão das emoções e o seu comportamento social. Um estilo de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial para o próprio e (ou) para os que com ele se relacionam são as características que determinam a identificação de uma perturbação de personalidade. Por serem vagas estas características são necessárias mas não suficientes, razão pela qual se operacionalizaram critérios de diagnóstico.
A perturbação da personalidade é definida pelo DSM-IV-TR como um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura, tendo em conta os substratos étnico, cultural e social, é global e inflexível, tem início na adolescência ou no início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina sofrimento ou incapacidade.
Nota: Apesar de entretanto ter surgido uma nova revisão do instrumento classificativo americano, o DSM 5, como não houve alterações importantes no capítulo das perturbações de personalidade mantive a referência ao DSM-IV-TR.