Servico de tv, internet e telefone. Cliente velho. Necessidade de agregar telemóveis, porque "em pacote" sai a metade do preço e porque acabou-se aquela coisa do "chamadas grátis da rede, chamadas a € para outras redes". Uma chatice, ter que ir ver preços, concorrência, promoções. Sim, porque as operadeiras deixam-nos agarrados a preços velhos a ver se a gente se esquece, enquanto oferecem o cu e cinco tostões a novos clientes. Contacto repetido, é só problemas, porque 2 telemóveis da casa estão "bloqueados" à concorrência. Não, não podem fazer nada, muito menos suportar as despesas de desbloqueio, isso - leia-se chatices e despesa - é comigo. Procurar as velhas faturas e ir à outra, perder tempo, esperar, sabe-se lá se não temos que entregar os aparelhos e esperar? e pagar, claro. Ná, e que diz a concorrência? Fixe. É Já. Escreve-se a carta a rescindir contrato e já está. Não sem antes receber uma longa chamada da operadeira despeitada, a querer saber porquê (coisa difícil), para onde mudei, que condições me ofereceram, e ficarem amofinados com a minha recusa em fornecer estes dados. Não importa. Já está. Não, não está, porque tenho aparelhos desligados e arrumados à espera que me contactem a ver quando os vêm recolher. Uma novela. Ainda não acabou, temo. Com sorte, deixam passar o prazo e depois aplicam-me coima (prevista no contrato) por não ter os devolvido. Ficou-me a tinir no ouvido as últimas palavras do último telefonema: Posso entregar numa loja? "não, tem que ser uma equipa técnica [sim, porque levantar 3 merdas exige conhecimentos técnicos do camandro] a recolhê-los, ligue a solicitar a recolha". Eu é que tenho que ligar (a pagar, claro). Só facilidades.
Entretanto, contrato com nova operadeira, a tal. Instalação sem problemas. Já a ativação dos serviços do pacote subscrito é que são elas. No dia seguinte à instalação, verifico que falta agregar um dos telemóveis e que faltam 55 canais de televisão. É tudo por baixo, pode ser que o cliente não dê por isso. Ligo (a pagar, claro), pedem desculpa e que vão analisar tudo e resolver o problema. E resolvem. Mas no outro dia, já desconfiado, verifico na "área de cliente" tudo à lupa. Faço uma lista do que consta do pacote subscrito e que está em falta: 1. um dos serviços não pode ser ativado porque " a sua box não é compatível"; 2. net móvel, nem vê-la; 3. outro serviço interativo, nadicas; 4. apenas um dos telemóveis tem o bónus de bué de mb extra atribuído, os restantes três, não. Pelo meio, uma avalanche de sms, algumas masturbatórias a enaltecer as maravilhas do serviço, outras desfasadas da realidade, outras ainda, simples publicidade.
Está na hora de usar o twiter. Exponho o problema e listo as falhas. Lamentam mas vão "analisar". No dia seguinte, insisto. "Lamentam a insatisfação" (deduzo que sou um insatisfeito por achar que tenho direito ao que subscrevi e pago), mas vão analisar. Volto à carga. Idem. Hoje, 3 dias depois do tweet e de nova insistência, talvez por ter sido "no geral" e retwitado, recebo uma chamada. Pelos, vistos, já analisaram. E dizem que me vão mudar a box. Que maravilha, ninguém verifica se o raio das boxes que os técnicos andam a instalar são compatíveis com o serviço do cliente? Pelos vistos, não, que importa lá isso? Ah e quando é? A partir de quinta. Mas se para fazer instalação de raiz (fios, cabos, aparelhos, internet) pode ser logo no dia seguinte, porque é que para entregar uma box já demoram (ainda) dois dias? pronto, pronto, então pode ser amanhã. A falta da net móvel "foi um lapso, já foi comunicado"; os mb extra nos telemóveis? outro "lapso", 3 já estão, falta um, e este em falta "também já foi comunicado". Não sei bem o que quer isso dizer, mas espero o pior. E o tal serviço interativo? Ahh isso posso fazer eu, na "área de cliente". Curioso, mas o cliente é que ativa as coisas? sim, porque há gente que não quer. Mas se eu não quisesse não tinha adquirido o pacote, não acha? Que raio de perguntas ando eu a fazer. A novela, temo, ainda agora começou. Nem me atrevi a perguntar pelo tablet a que também tenho direito. Nem quero, para já, pensar na diferença nos termos de outra oferta, entre o que consta no folheto e no site, e o que diz o sms que recebi há dias; há uma diferença semântica profunda, embora apenas difira em 2 palavras. Quiz: adivinhar qual dos textos é mais favorável ao cliente. É muito difícil de acertar, aviso. Respirar fundo, uma coisa de cada vez, afinal estamos em Portugal.
Não percebo. Grandes empresas, as maiores do país, que gerem o mercado quase em cartel. Patrocinam festivais de verão, gastam milhões em publicidade, inundam a televisão com advertising a toda a hora. Não são capazes de uma porra de um serviço decente? E empresas privadas, daquelas no top e sempre na berra e na onda. Imagino as manifestações de rua e a indignação de tanta gente se fossem públicas, essas coisas de madraços e incompetentes.
Sobre os 600 anos da conquista de Ceuta muito se escreveu e continua a escrever. Do que tenho lido por aí, fica-me a ideia de que continuamos à procura do Santo Graal e de razões misteriosas para o feito de armas, a ver gigantes em moinhos de vento e armados em D. Quixote quando fazemos figuras de Sancho Pança. A página do Facebook da Associação de Professores de História até se permite colocar links de textos com fases como esta: "ninguém sabe, porque é que deu a D. João I para ir para ali e não para outro qualquer local". Também li extrapolações anacrónicas sobre a ligação entre a tomada de Ceuta e os "Descobrimentos", uma espécie de antevisão do Império, o "apelo do mar" (o autor de um recente livro sobre o assunto diz, em entrevista ao DN, que "Ceuta deu o primeiro sinal de que seria no mar que Portugal encontraria alternativas", etc.). Equívocos e wishful thinking, muito bitaite e pouco conhecimento das fontes e dos contextos históricos.
Não sou especialista nesta questão, mas escrevi há uns tempos um textozinho sobre o assunto. E como sou demasiado preguiçoso para estar a escrever tudo outra vez, fica aqui para quem quiser. ("porque foi conquistada Ceuta?", 100 perguntas sobre Factos, Dúvidas e Curiosidades dos Descobrimentos, pp. 26-29 e 2 notas).
A proposta hoje aprovada em Conselho de Ministros é uma javardice eleitoralista sem nome. Resta-me a esperança que tenha algum efeito pedagógico sobre o Carlos "peste grisalha"Peixoto.
Frases que são todo um "pugrama" ideológico. De facto o que está em causa não são preocupações com a saúde, tão pouco com o principio "seguro, legal e raro". Assumam-no.
Para abortar é preciso estar grávida. A alínea a) do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 113/2011, de 29 de Novembro, isenta as grávidas e parturientes do pagamento de taxas moderadoras. Portanto, impor o pagamento de taxa moderadora é criar um regime de excepção entre grávidas.
O valor anunciado é o adequado para manipular a opinião pública - "vá lá, são só 7,75 euros" - em época pré-eleitoral e fazer esquecer o que de facto está na base desta proposta: moer e expor as mulheres que vão fazer uma IVG. Um meio perverso de identificar as cabras. Cobardes.
E o afã com que andam para formalizar coisa? Medrosos.
O Jorge Jesus pode dar as calinadas que lhe apetecer. O seu ofício não é esse. E os tropeções linguísticos só o vinculam a ele. Já um repórter televisivo é a cara de uma televisão. O seu trabalho inclui um desempenho correto na língua em que se exprime. A gente sabe que em Portugal ninguém quer saber disto e que é muito melhor despejar fel patrioteiro em cima de um acordo ortográfico. Mas eu cá gostava de saber quem é que seleciona os repórteres de exterior das televisões. Pelo menos, da televisão pública. E deve haver tanta coisa para fazer, é mesmo preciso escolher aquelas pessoas em concreto para entrarem em direto? No mínimo, bolas, que lhes dessem umas aulas de dicção básica e de português elementar sobre como articular duas frases sem comer sílabas, o que é concordância gramatical, um singular e um plural, um sujeito e um predicado, essas coisas difíceis. Alguém que espreite a forma escorreita como os repórteres da BBC ou da Al-Jazeera falam, e compare com a mistela das televisões nacionais.
Hoje de manhã, em direto do Centro de Saúde de Sete Rios para cobrir a greve dos enfermeiros, a jornalista da RTP Lígia de Sousa deu mais um show. Ninguém se importa, é tudo banal e fixe, não é? Mas eu cá não pude deixar de me arrepiar, sem evitar rir ao mesmo tempo, ao ouvi-la falar de azjessões (as injeções), exervixos (esses serviços), sentesaúde (centro de saúde), surgias (cirurgias) e os inevitáveis ptanto (portanto) ou "os diabetes". Retive uma frase em particular. Uma utente estava indignada por ter sido impedida de tomar a vacina - urgente, por motivos de viagem - contra a febre amarela. Ao que a repórter replica - naquela mania muito portuguesa de fazer perguntas que não são perguntas - com esta: "e é uma vacina que tem que ser feita com alguma antecedência, pra produzir algum efeito, para realmente ficar assim cuxtêmimunitário capaz de lá estar e não ter problemas no Congo, não é isso?". Haja saúde, que quanto ao resto estamos servidos.
Margarida Neto disse ontem na SICN que "o número de abortos tem vindo sempre a aumentar" e justificou essa falsa afirmação* recorrendo a uma nova narrativa: o uso da relação número de abortos por nados vivos no decorrer de um ano. Dá-se o caso da taxa anual de aborto não ser assim encontrada. Basta fazer uma pesquisa rápida na informação científica sobre o assunto para se aprender que o indicador metodológico usado na literatura é a razão entre o número de abortos e o total de mulheres em idade fértil. E assim cai por terra a realidade reinventada.
*
Vamos, contudo, fazer o exercício de olhar para o binómio número total de abortos e número total de nados vivos no decorrer de um ano. No caso português, e comparando com os dados disponíveis de outros países**, havendo uma diminuição consistente do número de abortos ao longo dos últimos anos em paralelo com uma diminuição do número de nascimentos pode e deve concluir-se que estamos perante um indicador de que as mulheres portuguesas têm das contracepções mais eficazes na Europa.
**
Atingir o desejável "seguro, legal e raro" consegue-se com mais e melhor informação sobre planeamento familiar, com desenvolvimento de políticas de educação sexual nas escolas e com centros clínicos multidisciplinares disponíveis para colmatar as insuficiências pessoais, clínicas e sociais que cada mulher específica entende ter, não com consultas obrigatórias eventualmente feitas por gente como esta.
Nota: O gráfico e os quadros apresentados constam do "Relatório de Registos de Informação da Gravidez 2014", da Direcção Geral de Saúde, que pode ser encontrado aqui.
but frankly, dear, I don't give a damn. Tive mais um acesso de orgulho ao verificar que isto consta novamente como "livro recomendado" em duas listas do Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário ("Apoio a Projetos" de História de Portugal e de História Universal), para o ano letivo 2015-2016.
As coligações têm destas coisas: criam no espírito do pacato cidadão a impressão de que algo une os coligados. Ideias, motivos, propósitos. Valores. A coligação, pensa o pacato cidadão, fala a uma só voz. Há uma comunhão de interesses que justifica a ida conjunta às urnas. Eis os coligados dispostos a serem julgados pelos eleitores com um só projeto, um só manifesto. O pacato cidadão fica ainda mais convencido disto quando lhe falam do programa eleitoral da coligação. Pois se há apenas um programa eleitoral, e ele é da coligação, é porque os coligados partilham as ideias que colocam a votos. Isto pensa o pacato cidadão.
Eis que se fala de debates. O pacato cidadão pensa que as coligações irão avançar para os debates... coligadas. Mas que não, que não!, bradam os coligados. O pacato cidadão, pensa, que diabos! terão os coligados ideias próprias, cada um deles? Que não, que não!, vociferam os coligados! Queremos é uma oportunidade para mostrar o nosso estilo, para expor de modo autónomo a mesma ideia, apresentar diferentes perspetivas de um mesmo pensamento, distintos vetores de uma ideologia. O pacato cidadão fica apreensivo: mas querem fazer isso com mais gente no estúdio? Por que não debatem entre si, com calma? Trazer a oposição para este debate, primeiro confundia-a e depois traiçoeiramente duplicava o tempo de antena para dizer a mesma coisa. Eles querem é vencer os opositores pelo cansaço, pensa o pacato cidadão. Que escolham um porta-voz e apareçam coligados nos debates. Ou há coligação a sério ou aquilo é um regabofe, pensa o pacato cidadão.
Ao pacato cidadão, modesto, humilde, remediado, não chegam as ideias elevadas da coligação com ideias unas mas cambiantes, uma unidade que é trindade, um mistério incompreensível de fé para as mentes mais simples. O pacato cidadão aflige-se: que diabos!, se vão coligados para quê esta confusão toda com os debates? Não se coligassem. Fossem sozinhos e logo se coligavam depois das eleições.
Eis a figurinha triste que andam a fazer o PSD e o CDS, Passos e Portas, cada vez que dizem que querem ir a debates separadamente.
Adolfo Mesquita Nunes no Expresso de hoje sobre as alterações à lei 16/2007: "Há uma redução do espaço de liberdade da mulher. Isso seria suficiente para eu votar contra." e "a alteração não vem colmatar nenhuma falha na aplicação da lei.".