ana matos pires: Vai-se a ver e é do meu mau feitio...
(texto de ana matos pires) Andei com as leituras atrasadas e só ontem peguei com olhos de ler na Única de sábado passado. Ao ler o texto "O mundo ao contrário" não consegui deixar de ficar com sentimentos ambivalentes e, há que assumir com frontalidade, piurça. E faxavor de não virem com a treta do politicamente correcto que já chateia, ok? De modo algum questiono a importância das instituições do tipo do Banco Alimentar (BA) contra a Fome e muito menos, porque não tenho que o fazer, a escolha de Isabel Jonet como Figura Nacional de 2007 no entender do Jornal Expresso, que fique claro, mas, como dizia o outro, ele há coisas que "não havia necessidade". A determinada altura leio «No seu dicionário, caridade vale mais que solidariedade. "Caridade é amor, solidariedade é serviço.". É também a sua "opção de vida", para "mudar o mundo".». Pois. Mas lá que me lembrei do Barata Moura, lembrei: Vamos brincar à caridadezinha Festa, canasta e boa comidinha Vamos brincar à caridadezinha.
A senhora de não sei quem Que é de todos e de mais alguém Passa a tarde descansada Mastigando a torrada Com muita pena do pobre, Coitada. Vamos brincar à caridadezinha Festa, canasta e boa comidinha Vamos brincar à caridadezinha. Neste mundo de instituição Cataloga-se até o coração Paga botas e merenda Rouba muito mas dá prenda E ao peito terá Uma comenda. Vamos brincar à caridadezinha Festa, canasta e boa comidinha Vamos brincar à caridadezinha. O pobre no seu penar Habitua-se a rastejar E no campo ou na cidade Faz da sua infelicidade Algo para os desportistas Da caridade. Não vamos brincar à caridadezinha Festa, canasta e a falsa intençãozinha Não vamos brincar à caridadezinha. Um pouco mais para diante estava escrito «Aliás, por uma questão de "autonomia e respeitabilidade", no BA, político não entra». Pois outra vez… e um apontamento. Ao longo do texto foi referida uma outra instituição, a "Entreajuda, cujas ligações ao BA são apontadas - aliás, têm a mesma sede física, na Av. de Ceuta, Estação C.P.Alcântara-Terra, Armazém 1, 1300-125 LISBOA). Na mesma peça jornalística pode ler-se que, e cito de novo, «Rosário Águas é a cara da Entrajuda, uma associação sem fins lucrativos (…) Economista de profissão, Rosário é deputada do PSD por Vila Real (…)». Sorry? Então e a autonomia e a respeitabilidade? Não tenho nada contra nenhuma destas mulheres, volto a assinalar, só me parece haver por aqui alguma incongruência, ou pantomineiros são só os outros políticos? Ah, um outro mimo adorável era a caixa da página 34. Rezava assim "Mãe de cinco filhos, tem aquele dom das mães para aproveitar sobras. Sobras de comida, de comida, de coisas, de talentos». Ai que coisa mai linda, que ternurazinha, que enaltecimento do papel materno. Mães deste país, uni-vos, sobra que é sobra não passará. Um grande 2008 para todos.