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jugular

ó pá parem...

... a não ser que se disponham a contribuir para o fortalecimento dos meus abdominais via ataques de riso. 

 

Esgotada que está a minha costela pedagógica (vide post infra) apelo a que uma alma caridosa se prontifique a fazer sessões de esclarecimento junto das associações de oficiais - de forma "clarinha, clarinha para que militar perceba", claro - sobre sexualidade e conceitos ligados. Alguém tem de explicar aos senhores que homossexualidade e heterossexualidade não se proíbem.

 

(declarações do Comandante do Estado Maior da Armada à TSF)

“clarinho, clarinho, para militar perceber” *

A ver se com a explicação pedagógica de Diogo Leão, hoje publicada no DN, chegam lá.

 

Aproveito a ocasião, e sendo também pedagógica, para aconselhar as altas patentes do exército, mesmo se na reserva, a terem algum cuidado com o que escrevem. Primeiro Garcia Leandro, conforme se pode ler no post abaixo, demonstrou que a Constituição, que tem por missão defender, é coisa que não lhe é muito familiar, a seguir veio outro general, Raul Durão, mostrar ao mundo que tem alguma dificuldade em seguir regras (sendo as regras tão importantes na vida de um militar), no caso as regras ortográficas, usando repetidamente a suposta palavra "descriminação"[sic]. Não fica nada bem quando estamos em presença de um grupo de pessoas que enche a boca com a excelência da sua formação. Ah, e por falar em coisas com que os militares enchem a boca, também costumam fazê-lo com Valores, como Honra, Verdade e Honestidade (sempre capitulares), não é? Pois...

 

*Não estou a chamar burro a ninguém, limito-me a usar uma frase que é descrita por militares como "velha máxima". E se eles o dizem...

lê-se e não se acredita

A única referência de "teor sexual" na Constituição da República Portuguesa encontra-se no seu artigo 13º, que reza o seguinte:

Artigo 13.º

Princípio da igualdade


1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

 

Hoje o DN dá à estampa um texto de Garcia Leandro a propósito de Colégio Militar onde, a certa altura, se lê " Estes alunos não são adultos e obviamente que estão ainda em formação física, intelectual, comportamental e de carácter; aquilo que a Constituição declara sobre comportamento sexual de qualquer cidadão não se pode aplicar de modo cego para estas idades.". 

A única conclusão possível a tirar é que, segundo o douto general, a não discriminação em função da orientação sexual não é para se aplicar na sua plenitude a adolescentes. Really?!

 

P.S. - Alguém pergunte ao senhor general que raio são "comportamentos sexuais", por favor

Esperemos que não mudem nunca

Afinal o melhor do congresso do PSD ainda estava para vir. Refiro-me evidentemente ao post Uma conversa com Pedro Passos Coelho, de Mário Amorim Lopes, publicado no início da semana no blogue Insurgente.  

Aparentemente, «Pedro Passos Coelho disponibilizou-se para uma conversa de cerca de meia hora com os social media», sendo que por social media devemos entender aqui «Eu [Mário Amorim Lopes], o Carlos Guimarães Pinto, o Vítor Cunha, entre outros». O Insurgente, portanto.

O texto arranca com uma afirmação inquestionável: «A pontualidade não define um grande líder (…) mas define um homem pontual». A frase deve ser mais profunda do que parece à primeira vista, pois «um homem pontual é alguém que leva os seus compromissos a sério, e isso não é pouco», especialmente quando o compromisso é conversar com o Insurgente.

A conversa com o antigo primeiro-ministro decorreu num espaço que «era o melhor que um contentor montado de improviso em zona privada do Congresso poderia proporcionar». Essa privacidade poderia ter permitido «uma ou outra piadola de circunstância, os ice-breakers, que seduzem quem se quer deixar seduzir» - e se há quem queira deixar-se seduzir por Passos Coelho é Amorim Lopes.

Infelizmente, o Insurgente só teve direito a «uma referência a “gajos” e nada mais se aproximaria do coloquialismo». Pensando bem, nem poderia ser de outra maneira, já que, para quem não sabe, «Pedro Passos Coelho, o homem e o político, são a mesma pessoa. Frio, sereno, responsável, determinado, como haveria de dizer Santana Lopes», insuspeito desse tipo de virtudes.

«A primeira [e única] questão prendeu-se inevitavelmente com algo que há muito me preocupava.» O que seria? O desemprego, a segurança internacional; o Sporting, o Benfica? Nada disso: «preocupava-me o slogan que Passos decidira adotar: Social-democracia, sempre! Credo». Amorim Lopes socorre-se de um clássico para justificar tamanha angústia: «em 2008, Henrique Raposo definiu bem o posicionamento ideológico dos partidos portugueses: mais coisa menos coisa, tudo de esquerda». Mais coisa menos coisa.

«Era isto que o PSD ambicionava voltar a ser? Impôs-se o silêncio. Expectante, Passos aguardava por uma questão.» Amorim Lopes reformula: «O que é a social-democracia em 2016?». E Passos dá finalmente sinais de vida: «a nossa social-democracia não é a social-democracia de Bernstein ou de Rosa Luxemburgo». Amorim Lopes estava agora «um pouco mais descansado». É que, para este insurgente, «essa social-democracia [de Bernstein e Rosa Luxemburgo] é socialismo de fato e gravata, pérolas e iPhones».

Mas se não é das pérolas de Rosa Luxemburgo nem dos iPhones de Bernstein, do que fala Passos quando fala de social-democracia? O mistério adensa-se e Amorim esclarece: Passos Coelho «refere-se à Dinamarca, à Suécia e à Finlândia», que agora aderiram à liberdade de escolha. Ficamos todos mais descansados, a começar pelo autor que mesmo assim continua a preferir o modelo da Irlanda. O seu lema para Portugal lembra um título muito conhecido: «somos aquilo que quisermos ser», ou em inglês, «Aim for the sky and you’ll reach the ceiling».

Ground Control to Major Mário. Estava na hora de descer à terra: «Um assessor avisa que o tempo está a terminar, há afazeres a fazer». Passos foi à sua vida, seguindo o bom exemplo «dos verdadeiros heróis acordam às 7 da manhã, trabalham sine die e não têm tempo para congressos», como os Insurgentes. O objetivo também era só dar a conhecer Passos, se possível «com um traço de humor», o que, voluntária ou involuntariamente, foi plenamente conseguido. «Passos é isto. Esperemos que não mude nunca». Esperemos que não, e só podemos desejar o mesmo ao Insurgente em geral e ao Mário Amorim Lopes em particular.

mistérios...

pr

Está hoje em tudo o que é sítio (conforme imagem supra) uma proposta - aparentemente muito revolucionária ou não teria tido tanto eco, não é? - de Paulo Rangel para que se abandone o péssimo e serôdio hábito de juntar os títulos aos nomes das pessoas (a conversa toda pode ser lida, por exemplo, no Público). Confesso que me espantei com o sururu já que ainda não há muitos meses o governo tinha inovado nesse departamento, aquando da tomada de posse o único título que surgiu foi o do PM da responsabilidade de Cavaco, e não vi ninguém valorizar o facto nem lhe dar especial destaque mediático. Acrescente-se que, pelo que percebo daquilo que estou a ver com a página aberta, a prática se mantém no Portal do Governo

glória, o daesh, mariana e nós

é quase a minha vez na fila do embarque para amesterdão – de onde conto apanhar um comboio para bruxelas, cujo aeroporto está fechado devido aos atentados dessa manhã -- quando o telefone toca. 'alô, é mariana de sousa moreira.' mariana, 48 anos, é a única filha de glória fernandes de oliveira esteves de sousa moreira. glória moreira, em curto: a primeira portuguesa vítima mortal do daesh, assassinada na tunísia em 2015, aos 76 anos.

 

mariana vive no brasil. quando a mãe morreu, não teve forças para falar comigo. foi com o marido e a tia, irmã de glória, que recolhi a informação necessária ao perfil publicado no dn em que descrevia uma pianista intrépida que, três anos após a morte do muito amado marido, decidira ir de férias sozinha para o lugar onde costumava ir com ele. agora, quase um ano depois – os atentados que vitimaram a mãe e 37 outras pessoas, apanhadas na praia por um homem de 23 anos com uma metralhadora, foram a 26 de junho – mariana vinha a portugal e tinha combinado, por mail, encontrar-se comigo. daí a chamada. digo-lhe onde estou e porquê. 'imaginei que pudesse estar de partida.' a coincidência estremece: vou ao encontro de uma cidade atingida pelo terror que lhe matou a mãe num atentado cujo dia e número de mortos provavelmente na europa já ninguém recorda, à parte dos familiares das vítimas e dos turistas que lá estavam. nem os portugueses se lembram da portuguesa que morreu na tunísia. porquê? ainda nessa manhã escrevera no twitter: 'bombas na turquia, nenhuma comoção; bombas em bruxelas e ficamos malucos.' caiu uma chuva de insultos e respostas tortas: 'esperavas o quê? é normal ralarmo-nos mais quando morrem os nossos.'

 

os nossos. os deles. começa e acaba tudo aqui, nesta distinção, nesta fronteira. às vezes, muito raramente, conseguimos fazê-los, aos nossos e aos deles, coincidir. como quando vimos um menino sírio de três anos, jeans e ténis de borco numa praia turca e percebemos que era só um bebé e podia ser nosso – parecia-se mesmo com os nossos, caramba – e chorámos baba e ranho e dissemos 'temos de os salvar todos', até que dois meses depois o daesh matou em paris e pensámos melhor no assunto.

 

mas glória, que era mesmo mesmo nossa, portuguesa do douro, desapareceu porquê do nosso radar? por que raio a esquecemos? é disso que mariana me quer falar: do calvário burocrático que enfrentou sozinha, daquilo que descreve como zero apoio das autoridades portuguesas. 'sinto mais apoio do foreign office britânico que do governo português', diz. 'vai haver no mês que vem uma celebração e o reino unido convidou-me para estar presente. pediram-me desculpa por não me poderem pagar a viagem.'

 

tenho há muito uma teoria sobre a maneira como dividimos (e notem este 'nós'; é mesmo nós) os atentados entre aqueles que achamos que são connosco e os que não são. não tem a ver só com quem morre; tem a ver com o lugar e também com quem mata. em Istambul, a 12 de janeiro, morreram 12 alemães e um peruano; a 19 de março, na mesma cidade, morreram dois israelitas e dois americanos. ninguém em portugal se preocupou muito com isso. ninguém foi ‘enviado especial’ a istambul. o mesmo para os atentados no egipto, em bali, em mumbai, na tunísia e até na rússia (ah, a rússia; é europa mas não é bem, não é?). morreram europeus mas em lugares que, mesmo em alguns casos fazendo parte da europa, colocamos fora do nosso território sagrado.

 

como glória. não morreu nos nossos domínios. não foi em paris, não foi em bruxelas, nem em madrid. além disso, aquilo a que chamamos de ciclos noticiosos cada vez mais se acelera, cada vez mais nos falta indignação e energia para cada um dos escândalos, cada uma das catástrofes, cada vítima, cada dor. não temos que chegue, nem queremos ter. custa demasiado: melhor surfar sobre tudo isto, com umas partilhas de fb e tuita, e ala que vem a vaga seguinte. e este nós, volto a sublinhar, é nós mesmo – eu incluída, todos os jornalistas incluídos, tudo incluído.

 

daí nunca mais termos querido saber da história de glória, desta história, nunca termos perguntado: e depois? como foi? que se passou? que se passa depois das notícias? não saberíamos, não saberia, eu, se mariana não me tivesse ligado. obrigada, mariana, por nos lembrar; obrigada por nos dar oportunidade de saber, de querer saber. e de sentir. e de, talvez, podermos fazer alguma coisa.    

Como é que é mesmo financiado o Colégio Militar?

cm

 (imagem daqui)

 

Em 2013 lia-se, no DN, "Atualmente, a receita das mensalidades corresponde a um quinto dos custos de funcionamento dos três EME, rácio considerado desproporcionado e que é compensado com 14 milhões de euros do Orçamento de Estado.". É verdade que não está discriminado o custo por cada um dos três estabelecimentos de ensino militar à época, mas presumo que o rácio seja semelhante em todos. Como é possível que o financiamento público se mantenha perante afirmações como as reproduzidas acima é algo que me transcende (e não falo de todas as outras aberrações que foram ditas ao Observador).

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