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Falsas dicotomias

"A política como forma de representação e de expressão da vontade colectiva, ou a política como meio de viabilizar a expressão da multiplicidade social das vontades individuais. Esta dicotomia espelha a bipolaridade do pensamento político contemporâneo, e distingue os vários modelos de estatismo e de intervencionismo do liberalismo"

Ao contrário do que afirma Rui A. a dicotomia que ele apresenta não esgota o pensamento político contemporâneo. E não a esgota porque essa dicotomia pressupõe uma visão instrumental da política, algo que realiza realidades estáticas que a precedem e que nos são dadas. Como escreveu Thiele:

"Politics is not only about how individual needs become satisfied in a world of scarce resources. Politics also plays a role in determining how these needs are created in the first place, how they become articulated, and what sort of relationships form around them...Politics preceeed and exceeds the distribution of scarce resources and the pursuit of individual interests because it concerns the way we define and understand our resources, our interests, our relationships, and ultimately ourselves as individuals" (Thinking Politics, Leslie Paul Thiele, Chatam House, 2003, pp. 71)

O Rui A. tem uma visão positivista da realidade porque esquece que a realidade social não é constituida por centros de poder atomísticos relacionados de forma causal (a vontade geral como Rui A. a vê é uma espécie de super indivíduo), pois essas relações são sempre mediadas por uma realidade simbólica partilhada por todos. Esta realidade simbólica não é uma entidade estática; ela é o background cultural ou social onde nos movemos, que é histórico, e que parcialmente nos constitui enquanto indivíduos. Ela deve ser pensada como uma linguagem que estrutura um contexto que torna possível certas relações, configurando-as em termos de possibilidades de acção (a relação entre indivíduos ocorre sempre num contexto que os transcende). A relação entre esta realidade simbólica e os indivíduos é dialéctica: nós agimos num contexto que nos orienta e que, ao ser apropriado por esses mesmos indivíduos, é parcialmente transformado por eles.

O problema de pensar a política exclusivamente em termos de soberania, como o faz Rui A., é que este pressupõe um soberano estático (indivíduos ou vontade geral), algo que uma ontologia dinâmica, como aquela que está implícita na citação de Thiele, torna difícil de sustentar.

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