O delírio
Sabemos que alguém vive num universo paralelo quando, tolhido por um ódio cego e paranóide, decide culpar José Sócrates por ter 'operado um golpe de regime' (Público, sem link) no BCP. Não sei se Pedro Lomba sabe, mas é bom recordar os seguintes factos:
- Jardim Gonçalves e 3 ou 4 outros administradores do BCP foram condenados pelo Banco de Portugal e estão impedidos de exercer funções em qualquer sociedade regulada pelo Banco de Portugal por um período de 10 anos.
- Fala-se de 17 off-shores que, alegadamente, teriam concedido créditos fora do balanço do BCP (e, por isso, não detectáveis pelas inspecções do Banco de Portugal) que foram declarados como incobráveis ou estão a ser reestruturados. Os titulares destes créditos eram na sua maioria accionistas do banco que apoiavam a administração que por sua vez os favorecia com estes “créditos”.
- O BCP tinha uma política de remuneração do board única na Europa (consta que era a 9º administração mais bem paga da europa – em valor absoluto!). Os administradores recebiam 10% do reported net income. Se os resultados cresciam, a remuneração da administração subia na mesma proporção. O board da Telefónica ou do Santander recebe 0.3%-0.5% dos resultados.
- O BCP foi o banco que provavelmente mais aquisições fez no seu próprio mercado. As aquisições serviam para aumentar os resultados que por sua vez aumentava os bónus do board. As aquisições foram todas feitas com equity que era financiado pelo próprio banco através de crédito para a compra de acções (off-shores).
- O BCP comprou nos últimos 15 anos: BPA (quota=10-12%), Banco Mello (3-5%), Sottomayor (10%). Somando todos os bancos que o BCP comprou, a sua quota de mercado deveria ser 35%. Hoje o BCP tem uma quota de mercado de 23%-25%.
- As aquisições feitas no próprio mercado serviam para fazer do BCP o maior banco do sistema. Sendo o maior banco português ficava defendido de aquisições hostis, perpetuando o controlo dos administradores sobre banco.
- Os sucessivos aumentos de capital diluíram brutalmente os accionistas porque as aquisições nunca criaram valor. Quem subscreveu todos os aumentos de capital teve uma rentabilidade de 1995 a 2005 inferior ao custo de capital. No entanto, o banco valia 3 vezes mais em capitalização bolsista, e os administradores tinham bónus obscenos.
E, perante tudo isto, o que faz Pedro Lomba? Diz que a responsabilidade da adminstração do BCP não passa de um mero 'boato'. A Verdade é que a culpa tem de ser, só pode ser de José Sócrates.