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jugular

promiscuidade e perversão, rewind

ao contrário do joão miranda, eu sei exactamente de que fala josé antónio cerejo quando no seu texto de explicações no público se insurge contra a dificuldade que os jornalistas têm de aceder a informação que é por natureza pública. sei porque experimentei não só a dificuldade como a frustração e a fúria que dela advêm e, mais, conheço e tenho reflectido as suas consequências, nomeadamente o tráfico e a distorção de que cerejo fala no seu texto.

 

joão miranda, como tanta gente no mundo em geral e em portugal em particular, não é obrigado a saber do meu percurso profissional e muito menos a ler tudo o que escrevo. é livre de tirar as conclusões que entender sobre o que escrevo, à luz da manifesta pouca ou nenhuma informação que detém sobre mim, e até de as publicitar em posts como este. é livre de ler um texto meu e perceber tudo mal. tudo isso, mais o insulto implícito (e explícito nos comentários que alegremente publica em nome, obviamente, da sagrada liberdade de expressar todas as calúnias e baixezas sob a protecção de um ip flutuante e de umas iniciais), faz parte do jogo.

 

é cansativo e entediante, mas é assim.

 

quanto à pergunta que faz, joão, parecem-me evidentes duas coisas: uma é que nunca deve ter consultado um processo na vida, pelo que não faz ideia daquilo que está a propor. por exemplo, não sabe que os processos contêm informação como moradas e números de telefone de testemunhas, descrições detalhadas, em caso de crimes de morte, de autópsias e coisas quejandas, e portanto constituem matéria que aconselha cuidado e reserva, além de exigirem, para se tornarem inteligíveis, conhecimento das normas e da tramitação implícitas. e por que vem, perguntará o joão, este tipo de considerações à baila se o que está a propor é a colocação de um processo determinado na net? bom, eu diria que a resposta é óbvia: porque se este processo fosse colocado na net não se poderia deixar de exigir que todos fossem colocados na net, sob pena de estarmos a abrir uma excepção incompreensível. se é isso que quer discutir, joão, discuta isso. todos os processos na net ou não? é exequível? é desejável? esta é a segunda coisa óbvia: não lhe ocorreu que discutir a colocação do processo freeport na net pressupõe discutir a colocação de todo e qualquer processo na net -- e isso demonstra bem o viés extraordinário que é de regra em tanta gente quando se fala do freeport. (esta última frase foi acrescentada umas horas após a postagem, por ter percebido que das duas coisas óbvias faltava explicitar uma -- coisas de escrever ao correr da pena e postar logo, sem reler)

 

sem prejuízo de se discutir isso (nada contra), parece-me que o que faz sentido é exigir que o acesso à informação pública por quem tem interesse nela e tem como função informar é que deve ser o fulcro desta discussão, e sobre isso gostaria de ver mais preocupação -- em relação a tudo e não apenas em relação ao freeport, mas se o freeport servir para lançar a discussão all the power.

 

o que não posso deixar de registar é que a maioria das pessoas que escrevem sobre o texto que escrevi sobre o caso do público e da sua constituição como assistente se concentram em questionar os meus motivos e não dedicam uma linha ao silêncio que rodeia o facto de pela primeira vez em portugal um assistente de um processo escrever sobre o mesmo.

 

como já escrevi, acho perfeitamente normal que haja quem, ao contrário de mim, considere a situação desejável e adequada; o que é inquestionável é que é a primeira vez que sucede e se trata de algo que, no mínimo, levanta dúvidas legais e deontológicas -- tanto que não vemos todos os jornais e jornalistas a fazê-lo, e isso é capaz de querer dizer alguma coisa. já se questionou sobre isso, joão? já viu algum texto jornalístico sobre opiniões jurídicas cruzadas sobre a situação? já viu os órgãos da deontologia jornalística pronunciarem-se sobre o assunto ou sequer anunciarem que o vão fazer? já viu alguma informação sobre casos semelhantes, a existir, noutros países? não, não viu. e acha isso normalíssimo, pelos vistos.

 

espantoso clima de liberdade de expressão este em que perante algo como isto não só toda a gente se cala como quem fala é suspeito por falar. ainda bem que os liberais de pacotilha estão atentos.

 

adenda: duarte schmidt lino escreve sobre o que escrevi a propósito do caso em apreço. ninguém diria: parece que eu só me debrucei, no caso de cerejo, sobre a questão deontológica jornalística. e que não percebi o que disse quando o estava a dizer. não sei a que texto meu dsl se refere; não pode ser este, nem este, nem este nem este que adendo. mas what's new. e uma coisa a favor do duarte: pode não ter lido o que escrevi e fazer um link para um post meu que nada tem a ver com o assunto em causa, mas tenta discutir argumentos -- ao lado, mas argumentos. já é alguma coisa.

 

adenda nº 2: não querendo ser injusta e não tendo a paciência de ir à procura do que joão miranda possa ter escrito na altura, peço-lhe que, atendendo à autoridade que dá à expressão e à realidade de 'figura legal', me elucide sobre o que disse quando um cidadão fez uso de uma figura legal -- a providência cautelar -- para tentar impedir a publicação de matéria que considerou atentatória dos seus direitos, liberdade e garantias. tenho a certeza de que o joão miranda se insurgiu estrepitosamente contra os que na altura consideraram o recurso ilegítimo, perverso e o apelidaram de 'censura'  -- incluindo o público, que o fez em manchete (ou seja, em notícia).

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