opus rascum
antónio serzedelo, presidente da associação opus gay, afirma, a propósito da promulgação da lei que reforça o estatuto jurídico e as garantias das uniões de facto, que eu um dia lhe disse 'para ele não defender as uniões de facto porque assim ninguém quereria casar'.
à repugnância que causa a qualquer pessoa decente uma imputação baseada numa alegada conversa privada -- pelo carácter por definição não público da conversa mas sobretudo por ser impossível ao 'acusado' provar que a dita conversa não existiu ou não se passou como descrito -- junta-se, no caso, a patente inverdade da imputação e o objectivo miserável que lhe subjaz. qualquer pessoa que acompanhe o meu percurso cívico e opinativo, caso necessariamente de serzedelo, que me conhece pelo menos há 12 anos por motivos profissionais e me contactou inúmeras vezes para trocar ideias comigo a propósito de uma causa supostamente comum, a da igualdade, sabe que sempre defendi não só uma lei de uniões de facto como a densificação da existente. nunca considerei que essa posição 'prejudicasse' a luta pela igualdade no casamento; o que considerei sempre foi que a luta não devia ser por um casamento de segunda, uma união civil registada como a existente no reino unido e noutros países europeus.
é perfeitamente admissível que serzedelo tenha feito confusão e pensado ouvir uma coisa que nunca lhe poderei ter dito; e ainda mais admissível que tenha umas contas quaisquer a ajustar com o mundo e eu lhe pareça uma via adequada para tal. mas não é possível que ignore que aquilo que afirma contradiz tudo o que eu defendi publicamente em colunas de opinião e em variados posts -- o que torna no mínimo muito improvável que tivesse dito a alguém que não defendesse as uniões de facto, quando eu própria as defendia, e mais ainda que dissesse algo tão estulto como 'depois as pessoas não quereriam casar'.
solicitei a serzedelo que provasse o que afirma ou efectuasse o competente desmentido, sob pena de ter de o considerar uma pessoa desonesta. não obtive sequer resposta. parece pois que o veredicto é inevitável.
tudo isto é lamentável e sê-lo-ia em qualquer circunstância. mas que suceda vindo de alguém que representa uma associação de defesa dos direitos das pessoas lgbt, causa com a qual não só me identifico como com a qual sou publicamente identificada, é ainda mais deplorável; que a ocasião da calúnia seja a concretização de uma 'conquista' que sempre defendi e que nem sequer tem qualquer relação unívoca com a causa lgbt é simplesmente estapafúrdio.
há gente muito, muito rasca. e vai sendo altura de deixar de ter paciência com a rasquice.