Subversões
Bento XVI continua muito preocupado com a descrença alheia e em particular com o facto de não ser o Vaticano a conduzir os destinos das sociedades ocidentais. Esta perda do sentido do sagrado, segundo Bento XVI, deve-se às mudanças sociais da modernidade, propulsionadas pelos avanços científico e tecnológico e pela globalização, que alimentaram «dúvidas em áreas que pareciam indiscutíveis», como «a fé em um Deus criador e providente, a revelação de Jesus Cristo como único salvador» ou a «lei moral natural» e resultaram na mania secular de que o Homem é «o único artífice do seu destino».
Assim, debitou um motu proprio Ubicumque et semper (sempre e em todo o lugar) com o qual instituiu um novo Conselho Pontifício destinado a combater a secularização e ateísmo que «alastram sobretudo nos países e nas nações do chamado Primeiro Mundo». O dicastério para a Promoção da Nova Evangelização (é mesmo assim que a coisa se chama), dirigido pelo arcebispo Rino Fisichella, terá como missão «combater» este lamentável estado de coisas, ou seja, combaterá o secularismo e o ateísmo, que «inspiram e sustentam uma vida vivida como se Deus não existisse».
E esse combate dos ateus é mesmo necessário já que, segundo Bento XVI «a indiferença religiosa e a total insignificância prática de Deus» «não são menos preocupantes e subversivos do que o ateísmo declarado». Isso mesmo, o ateísmo e a laicidade são subversivos, evertentes no latim original e eversivi na versão em italiano, e não relevantes como a Ecclesia traduziu. Enfim, se até para católicos ditos progressivos insultar ateus e acusá-los de malfeitorias sortidas é o pão nosso de cada dia, não espanta que Bento XVI, que em Setembro acusou o ateísmo de ser a causa da crise actual e do Holocausto, agora nos chame subversivos. Não espanta mas maça...