crónica de um crime não anunciado, 2
o avante desta semana (publicado hoje) decidiu enfim colocar na primeira página o caso das jovens forçadas a despir-se numa esquadra depois de apanhadas pela psp a pintar um mural. o assunto mereceu finalmente (15 dias depois) ao órgão oficial do pcp um texto inteiro a ele dedicado, apesar de o título e a entrada da mesma relevarem mais o impedimento da pintura que o, a crer no respectivo relato, flagrante e infame desrespeito pelos direitos das jovens evidenciado pela psp.
ficamos a saber que o caso ocorreu a 13 de outubro e que alguns dos 5 jovens detidos eram menores de 16. estranhamente, o avante não refere o nome nem cita individualmente nenhuma das jovens, apesar de uma delas, ana monteiro, ter dado uma entrevista à jcp on line. mais uma vez, o local do mural é elidido, apesar de ficarmos a saber o seu tema; mais uma vez, o avante! mantém que a lei permite a pintura de murais em qualquer sítio, quando a leitura da mesma evidencia que estes só poderão ser feitos em locais destinados ao efeito pelas câmaras municipais.
o assunto merece também um artigo de opinião ao director da publicação, josé casanova, que mais uma vez põe, desde o título ('a liberdade no reino da política de direita') a tónica na questão 'política' (dir-se-á mesmo partidária) e naquilo que considera ser o desrespeito pela lei da propaganda ('a pintura de murais em local público está consagrada na lei, que igualmente condena o seu impedimento', diz -- adorava ver em que parte da lei está isso escrito, deve ser dos meus olhos, a não ser que seja mesmo dos dele), inserindo a violência e abuso de autoridade policiais num quadro de repressão da actividade política de esquerda (!) e da 'liberdade de propaganda'.
aparentemente, josé casanova e o avante! acordaram agora para as práticas abusivas das polícias portuguesas -- e só quando incidem sobre o que consideram os direitos políticos do pcp. não se pode dizer que seja uma surpresa.
entretanto, a edição do dn de hoje traz uma notícia sobre o assunto, já com reacção da psp. no texto secundário descobre-se que há quem sustente que o local do mural é afinal propriedade privada.
actualização: igai abre inquérito à actuação da psp; constitucionalistas não acompanham leitura 'aberta' do acórdão do tribunal constitucional.