Porque é importante não ceder ao nacional pessimismo
Vitor Cardoso e Luís Oliveira e Silva, do Departamento de Física do IST, foram reconhecidos pelo European Research Council como cientistas excepcionais. Ao primeiro foi atribuída uma ERC Starting Grant no valor de cerca de um milhão de euros e ao Luís foi concedida uma distinção normalmente referida como o Nobel europeu: uma ERC Advanced Grant, no valor de 1.6 milhões de euros. Estas bolsas reconhecem explicitamente o trabalho de excepção realizado por ambos os docentes do IST mas reconhecem implicitamente que Portugal, após alguns anos de investimento em I&D, começa a afirmar-se internacionalmente pela qualidade dos seus investigadores (e docentes universitários).
Esta qualidade reflecte-se nos profissionais que formamos, muito requisitados lá fora mas com a bizarra pouca saída nacional que comentei há pouco mais de um ano. Hoje, como nessa altura, e em particular quando o país soçobra ao pessimismo e desânimo colectivos, importa recordar o que, em minha opinião, é o nosso passaporte para o futuro: os profissionais de excepção que andamos a formar há já uns anos.
Continuamos a assistir ao «êxodo de 'cérebros' que volta e meia é tema na comunicação social» mas hoje mais que então isso «merece mais abanões pessimistas de cabeças por parte de alguns fazedores de opinião mais à direita no espectro político, que apontam esta fuga como a prova provadinha de que é um desperdício do dinheiro dos contribuintes - que tira pão da boca dos pobrezinhos - apostar em qualificação avançada. E a reforma que urge para o nosso tecido produtivo tarda em efectivar-se».
Mas se é certa essa «fuga de cérebros» é igualmente certo que muitos destes cérebros regressam a Portugal depois de as suas qualidades excepcionais serem reconhecidas no exterior. Aliás, o que nesta altura de crise nos deveria interrogar é a razão porque estes profissionais não conseguem inserir-se de imediato no mercado de trabalho nacional ou porque razão é por vezes tão difícil a penetração em Portugal de empresas nacionais inovadoras, fundadas por «cérebros» que não fogem. Assim de repente recordo a SisCog, uma empresa criada por dois colegas do Departamento de Informática do Técnico, que desenvolveu software para o London Underground que permite poupar 90% em horas extraordinárias dos maquinistas e que ainda não conseguiu convencer o Metro nacional. Mas há mais exemplos só entre a comunidade de spin offs do Técnico.
Por outro lado, recordando a campanha de promoção de Portugal lançada pelo anterior ministro da Economia e sabendo que Portugal é neste momento um dos países europeus que, em percentagem, mais forma profissionais altamente qualificados em áreas científicas ou tecnológicas, não percebo porque razão não se promove o país por estes talentos em vez de por «talentos» futebolísticos e afins. Em particular porque há já alguns anos que muitas multinacionais abrem centros de excelência e de investigação em Portugal que por vezes servem de centros de recrutamento de mão de obra altamente qualificada para os países de origem dessas multinacionais (e, por exemplo, na Alemanha a falta de engenheiros é crónica há já alguns anos...).
Numa altura em que o país está refém das discussões sobre o Orçamento, importa vincar o que escrevi em Agosto de 2009, é necessário «continuar as políticas de qualificação da mão de obra, investimento em ciência e em inovação (...) Mas importa sobretudo que essa reforma permeie mentalidades e que deixemos de uma vez por todas, como sociedade, como Portugal que somos todos nós, de objecções à Velho do Restelo, de queixumes 'No, we can't'. Porque sem fazer nada de facto não vamos lá!»