Coisinha sexy, já dizia a Ruth Marlene
Foi-se a monarquia naquela malfadada quarta-feira, dia de S. Benedito, o Negro (curiosamente, no mesmo dia em que, 767 anos antes, um certo tratado consagrou a independência de Portugal), e dela apenas restou um travo saudosista por parte de alguns sectores. Salazar, monárquico convicto, nunca foi capaz de restaurá-la, talvez por saber que no dia em que o fizesse, teria que deixar o trono e regressar a Coimbra ou a Santa Comba Dão. Adiante. Depois de 74, os monárquicos criaram um partido, que chegou a cheirar vagamente o poder no início da década de 80, e pouco mais. Nas últimas eleições, ficou-se por pouco mais de 15 mil votos. Mas um certo "espírito monárquico" subsistiu de forma residual, entre fados e toiradas, saudades de um idílico passado e suspiros por um futuro ideal. Boa parte da aura monárquica resulta, precisamente, dos 100 anos de distância, que lhe conferem uma certa e natural curiosidade. Na semana do 5 de Outubro, um programa da Antena 1 (homónimo de um famoso blog caceteiro) foi preenchido com perguntas a crianças sobre a data e o seu significado; à questão sobre "se gostavam mais que Portugal fosse uma monarquia ou uma república", parte delas respondiam que preferiam "os reis" por causa dos trajes, da coroa e da pompa.
Coisas de putos. Porque os crescidos, esses, já perceberam que não vão lá só com rodriguinhos destes. Motivar as hostes e tomar o pulso à opinião pública, caramba. Para isso, nada melhor do que um blog enfiar um survey sobre "quem é o monárquico mais sexy". Ah que nem o Crull Tabosa, o Afonso de Albuquerque da blogosfera lusa, se lembrava desta.
Não é tão óbvio? Se o Correio da Manhã faz votações destas, porque não um blog, e com uma temática muito mais interessante? Calem-se Paulo Pires e Cristiano Ronaldo, que se alevantam Pedro Quartin Graça, Miguel Esteves Cardoso ou João Távora, qual deles o mais sexy, quem será, quem será? Apreciei a ousadia mas não percebi porque foram buscar uma palavra tão pouco portuguesa. Tinha, aliás, dúvidas sobre o significado do termo, pelo que fui ao Dicionário on-line verificá-lo, e o resultado foi desconcertante: "diz-se duma mulher que tem um encanto sedutor, dum filme, duma revista de music-hall, duma publicação, que apresenta um carácter erótico." Ups, maldito dicionário, mais uma sabotagem dos jacobinos. Pronto, deve estar desactualizado, nem toda a gente pode andar na crista da onda como os monárquicos cool desse blog. Aliás, o survey só quer saber quem é "O monárquico"; concluo, portanto, que ou não há monárquicas, ou não são sexy (ao contrário deles); ou todas o são (por qualidade inata, claro); ou é algo que não interessa nada. Aqui, protesto: confesso que me interessa mais saber se a Soraia Chaves é monárquica do que se o Miguel Esteves Cardoso é sexy. Mas eu sou republicano, está tudo explicado. O Paulo Estêvão é definitivamente monárquico, mas pelo resultado da sondagem falta-lhe o resto (até ao momento tem 0 votos). Pouco interessará isto ao homem que afirma que "o PPM tem todas as condições para corporalizar uma alternativa real ao actual regime"; todas, digo eu, excepto, talvez, uma única: votos, mas um partido grandioso como o que dirige não se pode deter em pormenores tão insignificantes. Quem tem convicções destas bem pode mandar o sexy às urtigas, é um facto.
Um actor sexy é uma coisa banal, um modelo sexy, idem aspas, porque, afinal, são profissões que vivem da imagem e do desempenho. Já um monárquico sexy, hmm não percebo bem, e novamente se me activam os neurónios: ou todos o são por inerência e trata-se apenas de determinar o primus inter pares do sex appeal (o rei da sensualidade monárquica, numa palavra), ou é uma qualidade assaz rara e, portanto, toca de encontrar um que cumpra os mínimos na categoria, enfim, dos distritais, que é onde param os monárquicos na cena política nacional. De resto, longe de mim pensar que se trata de uma simples manifestação de vaidade (nas suas variantes sexy e monárquica, ou ambas). Que três dos nomes do painel do escrutínio da sexycidade sejam membros do blog que a apresenta é detalhe desprezível. Presumo que os que ficam de fora reúnam uma de três condições: ou são mulheres (pelos motivos que apontei acima), ou são republicanos, ou tiveram pejo em medir o seu sex-appeal de forma tão mal disfarçada. Seja como for, é uma iniciativa inspiradora e eu farei, um dia destes, algo de semelhante aqui no Jugular, do estilo "qual é o historiador mais sexy deste blog?". Ficarei entre os três primeiros, de certeza. Não ganharei muito com isso, mas sempre me infla o ego e a auto-estima que, confesso, tem estado um bocado em baixo (não tanto como a dos monárquicos em mês de centenário, é um facto, o que torna tudo, enfim, subitamente límpido). De resto, e pelo que vejo, o José Castelo Branco, o João Távora e o Rodrigo Moita de Deus estão na dianteira, seguidos pelo Gonçalo Ribeiro Telles, ainda a dar cartas de sensualidade no alto dos seus respeitáveis 88 anos. Deixai, porém, que vos diga, oh arautos da lusa grei, que a vossa vantagem é vã e inglória pois, como todo o povo português sabe, há um insigne monárquico que vos bate em toda a linha, alguém que atinge o best score em ambos os campos. Ora haja alguém que se atreva a desmentir-me.