E continuam as barbáries no Irão
Não admira que o Irão queira rever os curricula das disciplinas de direito e de direitos humanos: para além das execuções públicas, mantidas ao ritmo «normal», são cada vez as execuções secretas, ilegais mesmo à luz do que passa por lei no país. De acordo com Ahmad Ghabel, um erudito religioso preso em Vakilabad no princípio do ano, apenas nesta prisão e apenas durante os 3 meses da sua detenção, foram secretamente executados 50 prisioneiros.
Ghabel, libertado sob fiança e detido novamente por ter denunciado as execuções, considera que o governo não fornece dados fidedignos dos enforcamentos nem reconhece as (muitas) execuções secretas para não provocar ultraje a nível nacional mas especialmente internacional. A Amnistia Internacional e o ICHRI (International Campaign for Human Rights in Iran) têm indicações que corroboram quer a escalada nas execuções quer o aumento da brutalidade do regime. O porta-voz da ICHRI explicou à al-Jazeera que «As autoridades estão a tentar reduzir estes problemas [que as execuções secretas causam a nível nacional] usando punições extremas, que violam as leis iranianas e internacionais, numa política de intimidação cada vez mais brutal».
E a brutalidade reflecte-se no aumento das execução e da utilização de tortura nas prisões iranianas mas também na tendência crescente para punições violentas. Há poucos dias, Ebrahim Raisi (ou Raeesi), o responsável máximo do sistema judicial iraniano, elogiou na rádio estatal como um «castigo divino» e «fonte de orgulho/honra» a amputação da mão de um ladrão.
Mais concretamente, Raisi afirmou à rádio estatal «Graças à bênção da Revolução Islâmica, realizar a punição divina tem sido praticado desde o estabelecimento da revolução. O nosso objetivo é exactamente levar a cabo as leis islâmicas no Judiciário. É uma das nossas maiores honras implementar o castigo divino. Talvez uma das maiores vantagens do nosso sistema judicial, em comparação com outros sistemas judiciais [do mundo], seja que nós queremos cumprir as regras islâmicas».
Em 1988, Raeesi integrava o comité da morte quando o ayatollah Ruhollah Khomeini ordenou a Operação Luz Eterna, durante a qual foram massacrados cerca de 30 mil prisioneiros políticos e suas famílias. O Grande Ayatollah Hossein Ali Montazeri* escreveu nas suas memórias que o massacre, que considerava um crime contra a humanidade, foi levado a cabo por altos responsáveis do actual governo. Nos documentos que tornou públicos Montazeri demonstra que apenas em 31 de Julho, 3 dias depois do início da operação, cerca de 3800 pessoas foram assassinadas.
*Montazeri era o sucessor de Khomeini mas foi afastado da sucessão devido à sua reacção ao massacre de 1988. Khamenei foi imposto à força e à pressa por Khomeini quando Montazeri denunciou o regime de Khomeini como o horror que de facto era. Para Montazeri, que não concordava com o clericalismo introduzido por Khomeini, completamente alheio ao xiismo duodecimame predominante no Irão, a consciência estava acima de zelo «revolucionário» e foi assim o primeiro prisioneiro de consciência do regime teocrático. Khamenei, um dos principais protagonistas do massacre, sem quaisquer pergaminhos e sem qualquer reconhecimento teológico mas com reconhecido zelo «sanguinário revolucionário», foi o escolhido por Khomeini.