SIM, a mulher pode!
O dia 31 de outubro de 2010 foi uma data emblemática na História do Brasil. Dilma Rousseff foi eleita presidente de um país machista, patriarcal e de forte tradição cristã, com um enorme fosso salarial entre homens e mulheres, em que violência contra a mulher é uma verdadeira epidemia que vitimiza milhares de cidadãs brasileiras, e contra a Igreja Católica que, com a bênção de Bento XVI, fez uma campanha intensa e suja contra ela.
No chamado Dia das Bruxas, mais de 54% dos brasileiros escolheram aquela que durante a campanha foi 'a bruxa', 'a feia', 'a gorda', 'a que não cuidou bem dos filhos', 'a que foi infeliz no casamento', 'a assassina de criancinhas', a 'sapatão'. Ontem os brasileiros mostraram que Dilma não é a bruxa que deve ser queimada, «o que precisa ir para fogueira são os preconceitos, as difamações, as mentiras e a intolerância, seja elas quais forem».
Por todas estas razões, gostei de ler o discurso de Dilma, que, sem utilizar uma única vez a palavra Deus, um inédito nos presidentes brasileiros, assumiu o seu «primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras». Esperemos que o faça mesmo e que a sua vitória inequívoca após uma campanha em que o aborto foi tema quasi único e os ataques à sua posição pró-escolha uma constante a façam concretizar o que pensa sobre o tema: o aborto é uma questão de saúde pública e como tal deve ser descriminalizado.