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Patriotismo não é o mesmo que 'self-assertion'

Na sua crónica no Público de hoje, Vasco Pulido Valente diz que a convenção republicana  foi um 'espectáculo de horror', uma espécie de 'cerimónia militar', denunciando o patriotismo histérico e belicista que foi a marca da administração Bush e que, contrariamente aquilo que se esperava de MacCain, parece continuar a ser reafirmado pelo partido e pela candidatura actual. Vasco fica horrorizado —e bem— com o nacionalismo cego, fanático e intolerante, que diaboliza os europeus —o que Freud não teria para dizer sobre os europeus que adoram este discurso— e que culmina inevitavelmente num militarismo irreflectido e dogmático. A exaltação absoluta das virtudes marciais e da figura do herói corajoso, resoluto e inflexível, não jogam com qualquer ideia de uma transformação da política externa dos últimos oito anos e mostram que há diferenças significativas entre o MacCain anterior e o actual candidato. Por muito que MacCain diga 'change' e tente recordar a ideia de que é um 'Maverick', é evidente que ele se aproximou da ortodoxia mais perigosa do partido.

O Miguel Morgado e o Nuno Lobo prontamente comentaram o que foi escrito pelo Vasco. O primeiro limitou-se a desconversar pois, ao preferir recordar outras profecias falhadas de VPV, ele basicamente ignorou o conteúdo específico daquilo que VPV escreve. Já o Nuno Lobo elogia o patriotismo Americano, escrevendo: "Curiosamente, os aspectos que são alvo da crítica de Vasco Pulido Valente são aqueles que eu admiro na América e nos americanos. O orgulho e exaltação do país que é o seu. O distanciamento face à vanguarda liberal europeia que os considera pouco sofisticados e incultos." Nuno Lobo parece confundir patriotismo saudável com fanatismo cego. A alternativa não é entre a coragem, e a vontade de defender determinados ideais, e a capitulação ou cobardia. O dualismo que os Republicanos nos querem impor, e que o Nuno aparentemente subscreve, é falso e simplista. O patriotismo não é uma defesa cega e acrítica de uma determinada posição ou interesse, nem pode se pode dar ao luxo de abdicar de interpretar a realidade concreta, do exercício da auto-crítica e de aprender com a experiência. O verdadeiro patriota tem de ser responsável, pensar e reflectir sobre as acções do seu país, repudiando-as, se necessário, quando elas não respeitam determinados valores fundamentais ou se revelam contraproducentes. O verdadeiro patriota ama e defende o seu país não apenas contra os 'outros' mas também contra si próprio, contra as acções que subvertem os ideais que estão na base da sua identidade nacional. O patriota não é dogmático e inflexível; ele é exigente e não um seguidor acrítico. Mas o que a convenção republicana revelou foi um branqueamento absoluto dos últimos anos e um posicionamento complacente com acções comprometem os seus próprios ideais. A crítica supostamente elitista à falta de cultura e sofisticação americanas, que o Nuno sugere, não é apenas snobeira arrogante; é sobretudo o reconhecimento de que sem juízo e reflexão o nacionalismo torna-se cego e perigoso. Os small town values não podem ser sinónimo de americanismo, sob pena de se romantizar de forma apologética a tacanhez de espírito e a intolerância que estes supostos valores não raras vezes escondem. O dualismo elites-povo (o que Nuno Lobo pensará sobre a história recente do PSD?) é a semente de todo o populismo, e deve ser evitado a todo o custo. Termino com uma passagem de Richard Rorty, no seu livro 'Achieving our Country':

"National Pride is to countries what self-respect is to individuals: a necessary condition for self improvement. Too much national pride can produce bellicosity and imperialism, just as excessive self-respect makes it difficult for a person to display moral courage, so insufficient national pride makes energetic and effective debate about national policy unlikely. Emotional involvement with one's country —feeling of intense shame or glowing pride aroused by various parts of its history, and by various present-day national policies—is necessary if political deliberation will probably not occur unless pride outweights shame...Those who hope to persuade a nation to exert itself need to remind their country of what it can take pride in as well as what it should be ashamed of...In America, at the end of the twentieth century, few inspiring images and stories are being proffered. The only version of national pride encouraged by American popular culture is a simpleminded militaristic chauvinism" (pg. 3-4)

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