hasta la victoria nunca
o nome insinua fidelidade. lealdade. numa confusão muito comum, ele traduziu-o em teimosia, imobilidade e massacre.
estive em cuba em 1991, em trabalho. nunca mais voltei. trouxe a imagem de um desespero mole, resignado, romântico. de um país quase imaginário, apropriado a documentários e novelas, mas não à vida. de rostos resilientes, olhares pesados, dizeres e sorrisos de uma ironia acerada. bonita, cuba, sem dúvida, com os seus automóveis anos 50 presos por arames e a sua havana desfeita em salitre e festejada no malecon, as suas gineteras de 15 anos, os seus hotéis faustosos e os seus insuperáveis mojitos. foi lá que ouvi pela primeira -- e última, até agora -- vez a palavra 'subversivo' dita por um polícia sul americano, como nos romances das ditaduras de militares e bananas que tinha lido em miúda. 'este indivíduo é um subversivo', disse o polícia sem se rir (não estava a gozar) referindo-se ao pobre miúdo filho de um veterinário que eu tinha levado a jantar na bodeguita del medio. e levou-o preso, sem que eu pudesse evitá-lo, apenas porque estava a jantar com uma turista e era proibido, um cubano confraternizar com uma turista (tinha dias, claro -- na discoteca a que fui nessa noite, a confraternização entre as cubanas e os turistas fazia-se luxuriantemente, à razão de uns dólares). tenho ainda a nota encarnada de 5 pesos com a efígie de che, uma nota belíssima que já em 1991 parecia de um filme antigo, uma prop e não uma nota a sério -- afinal, em cuba, pouco se pagava já nessa época com pesos, a moeda para tudo era o dólar, apesar de então ser proibida aos cubanos. este cenário para luas de mel e incursões carnais ocidentais durou até agora e provavelmente durará mais. não o julguei possível, acreditei que não podia ser, que a amargura e a memória de uma revolução traída não poderiam sobreviver mais 16 anos. que a falta de gasolina e de tudo o resto faria o que a desilusão não fizera. enganei-me. muito. tenho pena. as agências de viagem não. enquanto for a ditadura romântica das caraíbas, com a sua miséria charmosa e os seus posters de 10 metros com 'cuba no se alquila ni se vende' e 'hasta la victoria siempre', a sua baixíssima criminalidade e as suas putas de graça, cuba vende mais.