Um artigo para reflectir
No NYTimes, o Nobel da economia Paul Krugman inicia um artigo imprescíndivel relembrando um ensaio satírico de Jonathan Swift, A Modest Proposal, em que o autor consagrado das viagens de Gulliver oferece uma resposta aos irlandeses mais pobres: poderiam mitigar os seus graves problemas económicos vendendo os filhos para comida dos que os exploravam.
Para Krugman, o que o governo irlandês fez ao assegurar, ou antes, ao responsabilizar todos os irlandeses pelas dívidas dos seus bancos, foi seguir exactamente o conselho de Swift. E contrasta o que acontece na Irlanda com o que aconteceu na Islândia em que a resposta governamental foi outra: quem lhes comeu a carne, o tal mercado, agora que lhes roa os ossos, isto é, não foram os islandeses a pagar os maus investimentos do mercado. Vale a pena ler o artigo na íntegra, de que traduzi um pequeno excerto:
A história da Irlanda começou com um verdadeiro milagre económico. Mas eventualmente este milagre deu lugar a um frenesim especulativo impulsionado pelos bancos e imobiliárias, tudo num relacionamento agradável com líderes políticos. O frenesim foi financiado com empréstimos enormes por parte dos bancos irlandeses, principalmente de bancos de outros países europeus.
Então a bolha estourou e os bancos enfrentaram perdas enormes. Poder-se-ia esperar que aqueles que emprestaram dinheiro aos bancos compartilhassem as perdas. Afinal, eles eram adultos consensuais e se não entenderam os riscos que estavam a assumir isso não foi culpa de ninguém a não ser sua. Mas não, o governo irlandês entrou em cena para garantir a dívida dos bancos, transformando perdas privadas em obrigações públicas
Antes do estouro da banca, a Irlanda tinha uma dívida pública pequena. Mas com os contribuintes de repente responsáveis pelas perdas gigantescas da banca, ao mesmo tempo que as receitas caíram abruptamente, a solvabilidade do país foi posta em dúvida. Assim, a Irlanda tentou tranquilizar os mercados com um duro programa de cortes de gastos.
Retrocedamos por um minuto e pensemos sobre isso. Estas dívidas foram contraídas não para pagar programas públicos, mas por privados wheeler-dealers que apenas queriam o seu próprio lucro. No entanto, são os cidadãos comuns irlandeses que arcm agora com o ónus dessas dívidas.