Kant, Big Bang e coisas que tal
Na Crítica da Razão Pura, Kant procurou realizar uma crítica interna da razão que resultasse numa delimitação daquilo que pode ser conhecido. O fascinante em Kant é que ele redefiniu os termos da finitude humana de forma radicalmente anti-dogmática—como sendo constitutivos e interiores ao próprio conhecimento. Na Estética Transcendental (primeira secção da crítica) Kant defendeu que o conhecimento só é possível em relação aquilo que possa estar presente/ser dado a um sujeito. Isto significa que o tempo e o espaço não são coisas ou realidades passíveis de serem conhecidas em si mesmas, mas sim formas de intuição necessárias a priori; por outras palavras: elas constituem formas sem as quais nada pode ser apresentado a um sujeito. Isto significa que eu não tenho experiências do tempo e do espaço; mas sim que estes são condições necessárias para que qualquer tipo de experiência ou evento aconteça. O problema de conceitos como começo do universo ou origem do mundo é que a simples tentativa de os conceber como realidades passíveis de serem compreendidas viola as condições da possibilidade da experiência e transcende os limites do próprio conhecimento. Ou seja, eles tentam transformar o tempo e o espaço em realidades passíveis de serem compreendidas, esquecendo ou ingorando que elas são na realidade formas implícitas para que algo seja compreendido e, portanto, elas próprias algo não passível de compreensão cognitiva. O que Kant defende na CRP é que conceitos sem intuições são vazios e intuições sem conceitos são cegas. O tempo e o espaço dizem respeito à primeira parte: a partir do momento em que tentamos transformar o espaço e o tempo em objectos de conhecimento perdemos as condições que nos permitem conceber a possibilidade de um objecto ser representado e conhecido por um sujeito. Ou seja: violamos as condições que tornam qualquer conhecimento possível, e com isso entramos em auto-contradição. Não sei porquê, mas acho que isto se relaciona com este post do Luciano Amaral

