what are you doing after the orgy?*
'Em boa verdade, a não ser no espaço específico da pornografia, ninguém alguma vez postulara uma tal reivindicação de totalidade – nem mesmo Sade, cujo radicalismo nasce, antes de tudo o mais, de uma prática exaustiva, eminentemente intelectual, da escrita (e sabemos como muitas formas dominantes de jornalismo menosprezam as singularidades da escrita, apresentando-se como "naturais", quer dizer, tentando rasurar a especificidade de qualquer linguagem). Agora, vivemos num aquário de "transparência" dominado por esse jornalismo da totalidade, tendo a totalidade os contornos e os limites do seu próprio imaginário de anárquico infantilismo televisivo. Tal jornalismo, ao ver no WikiLeaks a promessa de um mundo apaziguado pela sua própria transparência, incorre numa responsabilidade central, com a qual, sintomaticamente, evita lidar. Ou seja: que fazer com o Estado — e a concepção do mundo que nele se exprima e transfigura — a partir do momento em que deixa de haver domínio específico do saber e da informação estatal?'
vale sempre a pena ler joão lopes. a sua série sobre a wikileaks, iniciada aqui, continua aqui e aqui.
*d'après baudrillard
adenda: nunca deixará de me fascinar a capacidade que as pessoas -- ou pelo menos certas pessoas, nomeadamente a generalidade das que comentam este post -- têm de recusar pensar. é certo que joão lopes não escreve fácil e não contemporiza com a simplicidade dos contra e a favor, mas mesmo assim o grau de casmurrice exibida pelos militantes da 'verdade' (é isso que se arrogam ser, certo?), curiosamente quase todos a coberto da máscara de everyman que a rede lhes permite, é notável.