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da liberdade e da censura, detalhes

O Metro de Londres decidiu não autorizar a afixação de um cartaz alusivo a uma exposição  de pintura na Royal Academy of Arts, alegando que o mesmo, uma reprodução de um quadro de Lucas Cranach (o Velho), de 1532, representando uma jovem mulher nua, era “demasiado sexual”.  O episódio deu origem a variegadas proclamações apaixonadas de defesa da liberdade “contra a censura”, incluindo em Portugal, onde se leram, em jornais e blogues, textos em que não só se arremetia contra a decisão “inacreditável” do Metro londrino como esta era relacionada com “o multiculturalismo” e, portanto (parece que não há conversa sobre multiculturalismo que não dê nisso) com os muçulmanos. A ideia era, então, que o Metro (que entretanto reviu a decisão) teria recusado o cartaz por temer chocar os seus clientes islâmicos. Presume-se pois que só os islâmicos são passíveis de ser chocados com imagens de carácter “abertamente sexual” ou com a nudez humana. O que nos leva à conclusão de que Portugal deve estar cheio de islâmicos, a ajuizar pelas escandaleiras que se fazem a propósito de coisas como educação sexual nas escolas ou filmes de animação para crianças, sobre o mesmo tema, passados na RTP. Este “islamismo”, aliás, vai de vento em popa.

Na mesma Londres, um casal de góticos, uma rapariga e um rapaz, foi impedido de viajar num autocarro por ela trazer uma coleira ao pescoço com uma trela que ele empunhava. Os jovens estavam vestidos dos pés à cabeça mas a trela foi considerada não aceitável, em nome, uma vez mais, da sensibilidade dos outros passageiros. A isto, porém, os ditos defensores lusos da liberdade de todas as exibições públicas do corpo disseram nada. Como ao facto de a empresa que gere a publicidade nos autocarros e metro parisienses ter recusado afixar um cartaz da revista Courrier International, por este trazer um título, “Sarkozy, le grand malade”, fazendo referência a um dos artigos nela contidos, uma coluna de opinião em que se diz que o presidente francês padece de uma incurável doença do ego. E igual indiferença dos bravos combatentes da liberdade mereceu a decisão do responsável de uma piscina holandesa, que, à imagem do que faz com os seus clientes nudistas, limitou as horas nas quais as muçulmanas que usam “burkini” (um fato de banho  que as tapa quase completamente, parecido com um fato de mergulhador) podem banhar-se. Enfim: a uns chateia gente nua, a outros gente “demasiado” vestida. Os mesmos que denunciam “o silenciamento das vozes independentes” em Portugal fazem vista grossa ao episódio do Courrier em França. É conforme – como são conformes aos objectivos e às necessidades de propaganda certas noções de liberdade e censura. Tudo pelo maniqueísmo, nada contra o maniqueísmo. (publicado hoje no dn)

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