A farsa
Ao longo de 2010 fomos assistindo a sucessivas - e por vezes entusiásticas - declarações de apoio de responsáveis europeus aos 'heróicos' esforços dos países periféricos para pôr as suas finanças públicas em ordem. A Europa parece finalmente ter encontrado a sua vocação: coloca-se fora do jogo que os periféricos travam com os mercados, mas aplaude e dá todo o apoio moral. É bonito, sim senhor, mas não chega. Em vez de se comportar como uma espécie de cheerleader, a UE podia, de facto, tentar ajudar. Como? Sendo coerente com as suas declarações, isto é, usando o seu poder para garantir que, enquanto os países em dificuldades forem cumprindo o acordado, estes têm todas as condições para realizar os ajustamentos necessários sem pressão adicional e contraproducente dos mercados. É que, ao contrário do que Merkel e companhia julgam, os mercados não estão a disciplinar ninguém; estão a tornar a vida dos periféricos impossível. Os líderes europeus bem podem ir dizendo que os mercados não estão bem a ver a coisa, mas, enquanto estes insistirem em ignorar os louvores dos primeiros, esse 'apoio' não passa de uma farsa. E esta farsa só não se transforma numa tragédia porque o BCE age (ou melhor, é forçado a agir) como bombeiro, com sucessivas intervenções in extremis que vão permitindo que este jogo absurdo continue a ser jogado.