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Três «péssimas» respostas à crise e um recado: «desculpe lá Helena, mas eu não lhe devo nada»

Ao contrário do que poderia indicar o título não pretendo aqui dar soluções para sair da crise nem para explicá-la (quem sou eu?). Sobre explicações, apenas sei que ela se deve a muitos e diversoss factores, tal como qualquer grande facto social, político e económico.

Também não vou falar das eleições presidenciais, nas quais a minha decisão está tomada. Nesta entrada de 2011, vou-me referir sim a três argumentos ultimamente lançados que me parecem completamente errados e alguns até perigoso, para não falar de que também são patéticos.

 

Relativamente ao 1.º argumento, é certo que, segundo li, apenas foi defendido por uma conhecida cronista, segundo a qual a grande responsabilidade da crise cabe, não a uma, duas, três, centenas de pessoas e/ou a diversos factores, mas a «uma geração». É claro que se pode desde já dizer que «enfiei a carapuça» e o facto é que a enfiei mesmo, pois pertenço a essa geração, tal como, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, para só citar um dos seus elementos. Dá para ver as diferenças… Aliás sobre essas diferenças, remeto para outras pessoas que já as destacaram e referiram a extrema diversidade dessa geração, até em termos cronológicos. Remeto também para o certeiro comentário de José Medeiros Ferreira, quando pergunta por que mete essa geração ainda hoje medo.

 

Desde já devo dizer que, como historiadora, utilizo muito o conceito de «geração», para me referir ao contexto social, político e sobretudo cultural e mental vivido por pessoas de uma mesma «coorta» (termo que advém do recrutamento militar, referindo-se a pessoas nascidas no mesmo ano) numa mesma época: por exemplo, sei que Marcelo Rebelo de Sousa lia e ouvia (em parte) os mesmos livros e a mesma música que eu. Mas aí se esgota, para efeitos analíticos, o conceito de geração. E isto para dizer à Helena, que me desculpe, mas eu não lhe devo nada por ser de uma geração a seguir à minha, embora perceba a inveja que, segundo penso, terá por não ter vivido certos acontecimentos que fizeram de alguns «guerrilheiros urbanos».

 

O 2.º argumento prende-se em parte com o que chamei de «inveja» (embora possa ser um pouco exagerado) relativamente a pessoas que, nos anos 60, viveram tempos conturbados e acreditaram em «amanhãs que cantavam». Ora, penso que isso pode ser visto na forma como anacronicamente, uma certa esquerda, cheia de optimismo, acha que é agora que o «mundo vai mudar».  Claro que não têm dúvida que o será pela «violência» (é romântico) e para melhor, para um mundo cor-de-rosa sem ricos e onde os pobres mandam, sem se darem conta que essa utopia, que já existiu, apenas deu um mundo horrível, que eu pessoalmente tudo farei para que não volte a existir. Algumas situações de violência na Grécia e na Itália têm mesmo sido incensadas, por parte de pessoas que, no quentinho da sua academia, manifestam o desejo que o mesmo aconteça em Portugal. Numa tremenda confusão entre a justa indignação das pessoas e casos de terrorismo puro, até já há académicos que comparam abusivamente a forma como as democracias tratam o que chamam de «anarquismo» (sendo que são os próprio terroristas que do anarquismo se reivindicam) como a forma como as ditaduras tratavam os «comunistas»).

 

O 3.º argumento prende-se com o anterior. Essas pessoas que se dizem de esquerda (extrema?) parecem não estar a viver no mesmo mundo que eu, que tenho uma visão muito mais pessimista do que se irá passar nos próximos tempos de crise. E o que vejo é o recrudescimento da extrema-direita na Europa, da xenofobia e, sobretudo, da demagogia populista e do justicialismo. Sobre estes, aconselho a leitura do excelente texto hoje publicado no Público, por Pacheco Pereira (da mesma «geração» que eu, mas com o qual discordo muitas vezes) sobre as formas como uma certa demagogia de esquerda e de direita utiliza a crise em proveito próprio. Penso que é daí – demagogoa e justicialismo - que virão os perigos, mas também não quero deixar analisar um terceiro perigo: a forma como a pobreza e a crise do Estado social está a ser utilizada pela direita em Portugal, para substituí-lo por uma lógica assistencialista (e mesmo caritativa).

 

Aí sim, há muito a comparar com o passado e, em particular com o Estado Novo «corporativo», em que a miséria era um «caso de polícia» e de caridade privada, neste ano do cinquentenário da guerra colonial.

 

foto arquivo do século

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