Contra o nacional pessimismo: Mamografia por emissão de positrões (PEM)
A tomografia por emissão de positrões, PET, é um exame imagiológico que se baseia no decaimento dos núcleos que emitem positrões, a anti-partícula do electrão ou anti-electrão. No PET, detectam-se os raios γ que resultam da aniquilação positrão-electrão. A parte do corpo a ser examinada é marcada com uma substância contendo átomos que emitem positrões, por exemplo o fluor 18 ou oxigénio 15, injectada por via intravenosa. Um detector capta os fotões gama e regista as zonas com maior actividade numa imagem tridimensional processada por computador. A aplicação desta técnica à mamografia foi o objectivo de um projecto nacional, PETmamografia, promovido pela Taguspark e co-financiado pela Agência de Inovação (ADI), que entretanto evoluiu para o Consórcio Clear-PEM, um consórcio português, em colaboração com o CERN e laboratórios participantes no «Crystal Clear Collaboration», liderado por um professor do Técnico, João Varela*, director do projecto PET Mamografia desde 2002.
A PET Mamografia começou a ser testada no início de 2007, no Hospital Garcia de Orta, em Almada. O resultado final é o ClearPEM-Sonic, um scanner que permite a detecção precoce de cancro de mama e que é francamente superior, a todos os níveis, conforto inclusive, aos sistemas existentes, apresentado publicamente no passado dia 29 de Outubro, no Taguspark. O scanner já foi instalado, com sucesso, no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) e no departamento de radiologia do CHU - Hopital Nord Marseille, em França.
Embora a ideia de aplicar PET à detecção do cancro de mama seja quase tão antiga quanto a técnica, inventada no CERN, e vários grupos internacionais tenham tentado aplicá-la, os resultados nunca foram muito bons até o consórcio português, confirmando a muito boa ciência que se faz em Portugal, ter revolucionado radicalmente a tecnologia subjacente.
*João Varela, professor no Departamento de Física do IST e investigador no LIP, coordena desde 1992 a participação portuguesa na experiência Compact Muon Solenoid, CMS, no LHC. Adido científico do CERN, é o CMS Trigger Project Manager, ou seja é responsável pela concepção e coordenação do desenvolvimento do sistema de selecção das colisões interessantes. Aliás, como foram grupos do Técnico, do LIP e INESC-ID, que construiram o sistema de trigger e de aquisição de dados de um dos quatro grandes sub-detectores da experiência CMS, nomeadamente o detector de electrões e fotões designado por Calorímetro Electromagnético, são portuguesesos os responsáveis pela operação deste sistema e muitas empresas portuguesas tiveram contratos de fornecimentos de materiais ou serviços para a construção do acelerador.