leiam, leiam, vale muitas missas
esta entrevista de Anselmo Borges a António Marujo (na Pública de hoje). Dois excertos:
"Quando esmaga o ser humano, quando em nome de Deus se mata ou se impede a crítica ou o desenvolvimento das pessoas, quando em seu nome se cometem injustiças, aí a religião é opressora. E também oprimiu quando trouxe medos, com coisas como o inferno, com o impedimento da alegria a nível sexual, todo esse universo de pânico. Mas, pela sua própria dinâmica, ela é libertadora. Toda a religião arranca desta pergunta: o quê ou quem liberta e salva? Na sua raiz, ela só pode entender-se enquanto força de liberdade e libertação."
"Um deus que mete medo, que humilha as pessoas e impede a sua alegria, que leva à violência e à guerra, é um deus em relação ao qual só há uma atitude digna: ser ateu. O mesmo se diga da doutrina que diz que Deus precisou da morte do Filho para aplacar a sua ira. Este deus seria pior que eu, é imoral, porque mata a vida, quer o sangue do Filho, precisa de vítimas. Isso é absolutamente intolerável. Um Deus que exige o sangue das vítimas é o Deus da vingança. Ora, se Deus se vinga, nós também podemos vingar-nos, podemos ir para a guerra. O Deus que Jesus anunciou constituiu uma revolução. Jesus não veio anunciar que há Deus, porque Deus nesse tempo era uma evidência social. O núcleo da sua mensagem é que Deus é amor. Esta é que é a notícia boa e felicitante do Evangelho. Ora, o que a Igreja pregou muitas vezes, ao longo dos tempos, foi uma má notícia, o "disangelho", no dizer de Nietzsche."