O dinheiro
Há uns tempos escrevi um post onde dizia que o dinheiro não é um recurso escasso, escassos são os recursos que o dinheiro podia comprar. Então não é que um membro do Bundesbank (banco central alemão), num relatório de Março de 2010, disse mais ou menos o mesmo.
'Money comes into existence through "money creation". Both state central banks as well as private commercial banks are able to create money. In the Euro-system, money comes into existence primarily through the origination of loans, and additionally through the acquisition of assets by central or commercial banks, such as gold, foreign currencies, real estate or securities. When the central bank extends a loan to a commercial bank and credits the amount to the [commercial] bank's account at the central bank, then "central bank money" comes into existence. Commercial banks need this in order to fulfill their fractional reserve requirements, to satisfy the demand for cash, and for their payments transactions.'
'Commercial banks can also create money - so-called fiat money. The process of money creation by commercial banks can be explained by the associated bookkeeping entries: When a commercial bank extends a loan to a customer, the bank makes an entry for a credit claim against the customer on the assets side of its balance sheet, for, say, 100,000 Euros. The bank simultaneously credits 100,000 Euros to the customer's checking [OR: current] account, which is entered on the liabilities side of the bank's balance sheet. This credit entry increases the deposits in the customer's account. Money comes into existence, which increases the money supply.'*
Aqueles que acham que criar dinheiro leva necessariamente à inflação acenam com os papões de Weimar e do Zimbabwe. Mas nenhum destes exemplos de hiper-inflação foi exclusivamente monetário; ambos estiveram ligados a uma significativa destruição da capacidade produtiva das suas economias. No caso da Alemanha, tinha havido a 1ª Guerra Mundial, as reparações ligadas ao Tratado de Versailles e, em 1923, a ocupação por parte da França da região do Ruhr, uma das principais zonas industriais do país. No Zimbabwe foi a 'reforma agrária', que destruiu a economia do país. Em nenhum dos casos será correcto dizer que a hiper-inflação foi causada pela política monetária.
Quererá isto dizer que podemos 'imprimir' todo o dinheiro que quisermos? Não. Mas a ligação entre expansão monetária e inflação não é causal, nem pode ser capturada por uma lei universal descoberta por Milton Friedman ou outro qualquer economista. Aqui, como em quase tudo, a resposta só pode ser: a relação entre política monetária e inflação depende das circunstâncias. Em certos casos leva à inflação; noutros à expansão do produto e à queda do deseprego; e noutros, ainda, pode alimentar bolhas especulativas. Quem acha que a economia deve procurar ser uma ciência cujo objectivo é a determinação de leis objectivas e universais não aceita esta resposta. Mas o problema é destes economistas, não da resposta.
*pags 88-93 do Relatório do Bundestag intitulado 'Geld und Geldpolitik''. Traduzido do alemão para o inglês aqui