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Uma bela efígie e um "Bolivar, Libertador"; um brasão de armas, oito estrelas, dizeres habituais e data. Duas cores, dois metais, uma fisionomia, um toque e um peso muito familiares. "Um bolívar", moeda venezuelana. Descobri que uma moeda destas tem um valor incrível: 0,0001654 €, ou seja, são precisos praticamente 6045 bolívares para obter o valor de um euro. Uma única moedinha de cêntimo, das nossas, daquelas minúsculas, pequenas, inúteis, que só fazem peso no bolso, vale bem 60 exemplares deste belo espécimen numismático. Imagino o que será trocar um euro por 6045 moedas destas. Já me custa imaginar que 10 € podem ser trocados por mais de 60 mil exemplares. Dá para fundir o metal e enriquecer com a sua venda a peso, talvez para a nossa Casa da Moeda, quem sabe. Um excelente negócio de importacão. Se calhar estou a dar ideias a alguém. Espero que não. Porque a moeda é uma beleza e não o merece. E o trabalho investido na sua concepção, desenho e produção vale certamente muito mais.
E - perguntará alguém - porque é que se me afloraram pensamentos poético-bulionistas tão profundos? um síndrome de "mix crise primaveril"? um esquema de desenrascanço à portuguesa? Rui Tadeu, import-export? Não. Apenas isto: a moeda de 1 bolívar é igualzinha à nossa moeda de 1 euro. No peso, na cor, no tamanho (ligeiramente mais grossa), na textura, na imagem. Hoje, ao deitar a mão ao bolso, fiquei intrigado com a estranha efígie. Não é a primeira vez que dou por mim a tentar adivinhar "de que país será isto". Da Venezuela, desta vez. Pensei que não valesse muito, nunca imaginei que valesse tão pouco. Cuidado, portanto, porque se a moda pega, teremos mais uma salada para nos entretermos a desconfiar do vizinho e de quem nos passa pela frente. Já estou a ver o Cavácuo a ir buscar o discurso da "má-moeda", já estou a imaginar as teorias da conspiração: foi o consórcio Chávez-Ahmadinejad, para minar de vez os imperialistas, começando por um elo vulneravel e fragilizado; foi a CIA, para obter a submissão total mediante um golpe de teatro para incriminar os combatentes pela libertação mundial; foram os ciganos (não importa porquê, como e porque raio, porque são sempre culpados); foi o Teixeira dos Santos, porque assim rouba mais uns milhões para tapar o buraco; foram os judeus, os Illuminati, o ateísmo blasfemo; tudo culpa do aquecimento global ou do Sócrates; "só neste país", em suma, enfim, não é?
Adenda: post escrito num fim-de-tarde primaveril... fui enganado pelo conversor on-line que me deu a cotação do antigo bolívar e não do "bolivar fuerte" que é o que está em vigor e cuja moedinha me inspirou; e que vale, afinal, um pouco mais de 0,10 €. Pronto, fica o texto como um supônhamos. E faço minhas as palavras de D. João I, embora esteja fora do meu alcance mandar pintar pegas no tecto do blog...