Devo viver numa realidade paralela
Acabei de assistir na Sic Notícias a (mais) um debate motivado pelo caso das imagens do YouTube na escola do Porto. Fi-lo acompanhada da minha filha mais velha e demos por nós a abrir os olhos de espanto com algumas afirmações proferidas. Falando em nome próprio: tenho os meus dois filhos em escolas públicas, fui delegada dos pais em algumas das turmas deles e, nessa qualidade, participei em Conselhos de Turma motivados por situações de indisciplina bem mais benignas que a do Porto. Quando ouço dizer que aquela professora não apresentou queixa até que a história fosse tornada pública porque sabia que teria que penar ad eternum até uma decisão ser tomada fico entre o irritada e o divertida pelo desconhecimento demonstrado por quem profere tais afirmações. Na escola que os meus filhos frequentaram até ao 9º ano (um ainda a frequenta) quando há uma cena de indisciplina que justifique um Conselho de Turma, este faz-se com celeridade e, por exemplo, as penas de suspensão (que existem e são aplicadas) têm efeito na semana imediatamente subsequente aos factos. As ilações que se tiram sobre o sistema escolar no seu todo a propósito desta infeliz cena são de um basismo que mete dó. Há problemas na escola portuguesa? Há sim senhora mas não é uma situação de flagrante falta de autoridade de uma professora que serve para os diagnosticar. Porque é no fundo isto que aqui está em causa... Quebrei o voto de silêncio que tinha imposto a mim mesmo desde o início desta história e isso chateia-me, até porque deste o início que estou um bocadinho enjoada com miserável aproveitamento feito por uma quantidade de gente que, além de tudo o resto, parece ter a memória muito curta. É altura de citar o que hoje vi escrito noutro sítio "Bem hajam os sãos de memória (...) que não julgam ter nascido com 30 anos nem se esqueceram de que um liceu, por mais pacíficos que sejam o lugar e o tempo onde fica, é sempre uma casa cheia de adolescentes. Alguns dos dedinhos autoritaristas que agora por aí se agitam faziam bem em folhear as brumas das suas memórias de infância.". Ah! E isto não é um discurso deculpabilizador da profunda má educação da criaturinha zelosa do seu telemóvel. Adenda matinal: a ler o que António Gamboa, Presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas da Damaia, hoje escreve no Público (transcrevi para o meu baú pessoal).

