Pôr as coisas em perspectiva
No seu artigo de hoje no Publico (sem link), José Manuel Fernandes resolve seguir na onda de Álvaro Santos Pereira, e diz: os factos provam que a culpa é toda do Sócrates. Insistir em desvalorizar, quando não mesmo ignorar, o contexto internacional tem o pequeno problema de se aumentar significativamente a probabilidade de se dizerem disparates. Por exemplo, afirmar que, tirando os países periféricos, 'ninguém sofreu como nós, nomeadamente a destruição de emprego' leva-me a concluir que JMF não vive neste planeta. É que, para além de desvalorizar o facto de Portugal ter tido um aumento da taxa de desemprego muito menor que a Espanha, a Grécia e a Irlanda, ignora que o desemprego na Eslováquia, na Bulgaria, na Estónia, na Letónia, na Lituânia e - pasme-se - na Dinamarca (a da flexi-segurança) aumentou muito mais do que em Portugal (dados OCDE e Eurostat). A não ser que JMF considere que estes países (mais os EUA) são todos periféricos, a afirmação de que Portugal é um caso singular é claramente falsa.
Strauss Kahn pôs o FMI a trabalhar com OIT porque a crise do desemprego é o maior desafio para a eocnomia mundial, não porque José Sócrates tenha criado um problema especificamente português. Mas o problema de JMF não acaba aqui. Mesmo que fosse verdade que o desemprego só tivesse afectado os países periféricos, o que justifica tratar esse facto como algo irrelevante para se formular um juízo sobre o caso português? Como é óbvio, nada disto implica que o desemprego não seja um problema grave; apenas que, se quisermos ser sérios, convém pôr as coisas em perspectiva.