A carta malandra de Francisco Louçã*
As vitórias e as derrotas nos debates fazem-se, grande parte das vezes, com truques. No debate entre Louçã e Sócrates isso foi evidente. Sócrates repetiu, vezes sem conta, que só se tinha comprometido com aquilo que consta do MoU, e nada mais. Mas Louçã, um especialista em demagogia e manipulação, mostrou uma 'carta' . Carta que demonstraria que Socrates mentia, ocultando ter assumido compromissos que transcendem o que consta do MoU.
Cabe aos comentadores e aos jornalistas fazer mais do que avaliar a performance de cada um. Devem analisar o conteúdo para lá do foguetório. E mostrar o que o foguetório esconde. Um exemplo: o parágrafo sobre a TSU lido por Louçã é exactamente igual ao que consta do MoU, nem mais, nem menos - e não, como pretendeu Louçã, algo que, até ao debate de quarta feira, tivesse sido ocultado por Sócrates. Ora, não só o MoU é público, como até foi analisado por tudo quanto é jornalista, comentador e, pensava eu, pelos partidos que dele discordam, como é o caso do Bloco e do PCP.
Não é um exclusivo de Francisco Louçã, apesar de não ser a primeira vez que manipula e distorce informação em debates. O problema é outro: não haver quem faça o escrutínio dos factos apresentados.
Louçã pode ter sido habilidoso ao pretender passar a ideia de que Sócrates mentia e ocultava informação dos portugueses. Mas a sua habilidade não faz dele um bom político, no que de mais relevante tem a função. Nem é útil para os cidadãos formarem uma opinião sobre as razões do estado em que estamos e as melhores soluções para sairmos deste buraco.
* De um original de Daniel Oliveira