a ver se nos entendemos
De uma vez por todas, sem rodriguinhos nem considerandos: o que leva certa gente a escrever posts miseráveis sobre a presença de asiáticos e africanos num comício do PS não é o funcionamento da máquina partidária (porque é, infelizmente, prática habitual de várias), nem o "encher chouriços" com gente para fazer de conta no circo eleitoral (idem), nem sequer o facto de essa mesma gente estar ali recrutada, reunida, embarcada e transportada sem, eventualmente, saber muito bem ao que vai e para quê (idem idem). O que a impele é a questão da nacionalidade, da etnia, da cor, da raça, da religião, oscilando entre o apelo desconfiado à fiscalização do SEF e opiniões paternalistas típicas do mais emproado sahib britânico do século XIX: coitadinhos, esfomeadinhos, foram ali para ganhar um lanche, eventualmente humilhados, usados e cobertos de ridículo pelos engajadores socialistas. Como principal fonte, o inefável José Manuel Fernandes vai ao Correio da Manhã. Estamos entendidos no que toca a sintonia jornalística. E ao tom xenófobo geral dos textos e dos respetivos comentários também.
Ora bolas. Se fossem portugueses de gema, ou ao menos branquinhos, ninguém quereria saber deles, porque todas as máquinas fazem o mesmo nestes tempos infelizes de campanha. Seria apenas "gente do PS", apaniguados, sequazes, arregimentados, da máquina, da troupe ou da pandilha, mas nunca pedintes por um lanche, porque os portugueses têm, presumo, uma dignidade natural; mesmo que de arreganhado sotaque beirão ou minhoto em pleno Alentejo, não importava, mesmo os ferrenhos PS de Miranda do Douro teriam um certo direito natural a passear, a opinar, a bater palmas e a lanchar à conta do PS, mesmo que em Vila do Bispo. Até podiam ser ucranianos, é gente branca, passava despercebida. Agora monhés, pretos e chinocas? Que é lá isso? Nem cá deveriam estar, quanto mais participar, e ainda por cima em coisas do PS. Que perceberão eles de Portugal (mesmo que cá vivam, trabalhem, paguem impostos)? Eles que vão lá opinar para a terra deles, era o que faltava. Um sikh de turbante é um personagem do Indiana Jones, não é português. Não pode ser.
Agora esbracejem, espumem, digam que não. Mas eu, que sou teimoso, escrevo, digo, reafirmo e ninguém me convence do contrário.