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Malick, o filósofo

 

Malick studied philosophy under Stanley Cavell at Harvard University, graduating summa cum laude and Phi Beta Kappa in 1965. He went on to Magdalen College, Oxford as a Rhodes Scholar. After a disagreement with his tutor, Gilbert Ryle, over his thesis on the concept of world in Kierkegaard, Heidegger, and Wittgenstein, Malick left Oxford without a doctorate degree (daqui).

 

Descobri a informação que podem ler na citação acima quando ainda não havia sequer wikipedia. Foi no final do anos 90, depois de The Thin Red Line me ter posto à procura de saber quem era aquele tal de Terrence Malick, que havia realizado um filme que rapidamente se tornou num dos filmes da minha vida. Every man fights his own war tornou-se o meu lema em muitas provas e provações íntimas. E, num site canadiano, comprei o mupi (sim, o mupi) do filme, que mandei emoldurar e que reina, discreto, na minha sala. Depois disso, em pouco meses, vi todos os filmes de Malick. O que se revelou fácil, pois só havia mais duas longas-metragens: o fabuloso Badlands, com um Martin Sheen e uma Sissy Spacek geniais; e o Days of Heaven, que acho ainda não ter absorvido completamente... Depois veio o New World, de que não gostei tanto, mas na escala de quem não gostou tanto da Capela Sistina como gostou Stonehenge.

 

Há cerca de ano e meio comprei o blu-ray de The Fountain, de Darren Aronofsky, filme incompreendido (mas este não é um texto sobre isso) e numa pesquisa que fiz depois de o rever, descobri este projecto de Malick. A total excitação.

 

Este também não é (ainda) um texto sobre The Tree of Life, o filme que mais me impressionou desde A History of Violence, e não é bem sobre Malick, mas sobre uma dimensão de Malick, aquela que me fascinou na Barreira Invisível e que depois fui descobrindo.

 

Carrego comigo a tristeza de não ser do tempo da licenciatura em Histórico-Filosóficas. Não é de estranhar que Direito tenha sido a minha terceira escolha. E foi a correcta. Há muita filosofia na prudência jurídica. Mas a paixão de adolescência pela filosofia manteve-se. Quando descobri que Malick era um Rodhes Scholar, de Harvard, cujo orientador em Oxford era Gilbert Ryle e cuja tese tinha como objecto Kirkegaard, Heidegger e Wittgenstein, pensei para mim "tinha que ser". E tem que ser.

 

Há um livrinho magnífico, que reúne as famosas 6 Conferências Charles Eliot Norton de Umberto Eco, sob o título Seis passeios pelos bosques da ficção. Para mim é uma espécie de Meditações dedicadas ao papel do leitor na criação da própria obra que lê. O princípio é aplicável a qualquer obra de arte: ela tem a forma final que as nossas próprias referências permitam (Anthony Lane, em recensão a Tree of Life, na New Yorker, aborda lateralmente este aspecto). Por exemplo, Umberto Eco escreve os seus romances por camadas, do policial, às referências eruditas obscuras, como já notei em vários textos e o recente Cemitério de Praga é exemplo. Malick filma tratados de filosofia.

 

Imaginemo-lo há décadas atrás, enviado pela mais prestigiada bolsa de estudos do mundo, a Rhodes Scholarship, a Oxford, com Gilbert Ryle como orientador, o mesmo do fascinante e provocador, The Concept of Mind. Depois, claro, aquela tríade olímpica, Kierkegaard, Heidegger e Wittgenstein. E, subitamente, sobretudo, a partir de Days of Heaven, parece que todos os seus filmes foram apenas pretextos para estudos de caso sobre o modo como a mente vê o mundo. Ou como o mundo é criado pela mente. E como tudo isto pode ser Deus ou a Natureza. É assim em The Thin Red Line, é assim em New World e é, magistralmente assim, em The Tree of Life. E lá está Ryle, com quem se zangou por causa das visões do mundo em Kirkegaard, Heidegger e Wittgenstein. E o deslumbramento com a criação. E toda a sua inquietude.

 

Mas se Malick não se doutorou em Oxford, foi mal que veio por bem: se não o fez em Days of Heaven ou em The Thin Red Line, creio que o júri de Cannes concordará comigo que o fez em The Tree of Life. Por muito cinema que exista nesse maravilhoso filme, o que está ali é filosofia pura. Da ontologia à estética. 

 

(em surround com o Vermelho e a Noite Americana)

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