Como era? "Eles comem tudo"?
Ontem foi o Rui de Carvalho a apregoar as maravilhas de uma certa cadeia de supermercados, talvez para contrabalançar a promoção descarada, incrível, inacreditável de poderosa concorrente, com a conivência da uma câmara municipal, com direito à ocupação da mais importante via da capital durante dias e com direito a horas de transmissão direta no canal público de televisão. Hoje é o João Botelho a cantar loas às propriedades miraculosas de uma determinada saboneteira. A imprensa portuguesa, a pública e a privada, alinha, feliz e contente, em embustes destes. E amanhã? Quem aparecerá, em nome da "produção nacional", a fazer publicidade comercial sem menção de que se trata disso mesmo? Um juiz a promover uma cerveja, um ministro a vender uma pasta de dentes, um general a impingir um telemóvel? Já chegámos a este ponto? Vale tudo? Ninguém denuncia? Ninguém penaliza?
Eu não me incomodo quando me tentam vender alhos ou bugalhos. Não gosto é que me tomem por imbecil e me insultem a inteligência camuflando objetivos comerciais com alegadas boas intenções de promoção do "made in portugal" numa época de crise. É desonesto, é desleal. Lembra-me uma certa venda-peditório "para as crianças" (ou para uma outra qualquer causa) que apelava à carteira e que, quando era solicitado recibo, passava um talão de uma empresa de brindes, "que tem protocolo com a Associação X". Neste caso, talvez alguém acredite sinceramente que são os agricultores portugueses, e não a Sonae ou a Jerónimo Martins, quem beneficia e lucra com estas rafeirices. E que comprar sabonetes Ach Brito em vez de qualquer outro é um ato patriótico. Porra. Como se já não bastasse a crise, ainda temos que levar com estes sanguessugas disfarçados de enfermeiros que nos chupam o sangue e ainda têm a lata de dizer que é para bem da saúde coletiva.