Tentando perceber o que acabou
Without a background of social stability everyone will eventually suffer, including the most resourceful, bold and ingenious of speculators. The question is not to choose between total control and total deregulation, but how to identify the points and practices where social risk becomes unnacceptably high...
...Fundamentalism is a religious word, not inappropriate to the nature of the problem. Marx long ago observed the way in which unbridled capitalism became a kind of mythology, ascribing reality, power and agency to things that had no life in themselves; he was right about that, if about little else. And ascribing independent reality to what you have made yourself is a perfect definition of what the Jewish and Christian scriptures call idolatry Rowan Williams, na Spectator (27 de Setembro)
Uma das coisas que a crise financeira nos obriga a recordar é a natureza social e profundamente interdependente da nossa existência colectiva. O mito fundador de certo tipo de pensamento económico e político—onde a realidade última são basicamente indivíduos independentes e suas escolhas autónomas—é deficiente porque não nos permite reconhecer e lidar com este elemento fundamental da existência humana. A existência de contextos sociais partilhados, irredutíveis aos indivíduos que os compõem, revela a limitação de qualquer forma de pensamento centrado exclusivamente no indivíduo, entendido como se fosse uma realidade autónoma e auto-subsistente. O mercado tem uma deficiência constitutiva (uma espécie de pecado original, se quisermos), pois, ao individualizar a realidade—necessária para determinar propriedade privada, responsabilidade individual, etc...—, ignora ou reprime aquela parte da realidade que não é de ninguém em particular mas sim de todos nós. Mas esse 'esquecimento' não é um problema contingente que possa ser eliminado. Ele é essencial e constitutivo, pois só ignorando esta dimensão social pode o mercado funcionar. Cabe à política e a todos nós recordar esse 'inconsciente reprimido' e agir em conformidade. Quando a política esquece essa dimensão e se confunde com o mercado, ficamos à mercê do 'regresso do reprimido'. E como nos ensina a psicanálise: aquilo que esquecemos ou tentamos reprimir regressa sempre, independentemente da nossa vontade.

