a realidade, essa coisa chata
Esta noite, no Prós e Contras, César das Neves proporcionou mais um daqueles seus shows habituais. Bracejou, gritou, desprezou todos os que disseram coisas contrárias à sua (douta, pois claro) opinião. Valeu tudo e, se não ouviram, fiquem sabendo que a crise do euro não passa de uma mania dos europeus, sempre dramáticos: se fôssemos americanos deixávamos a Grécia assim, falida, como está a Califórnia (nunca passou pela cabeça de Obama salvar a Califórnia, ouviram?)
Nada de novo. César das Neves debita frases nas quais parece não ter pensado mais de meio segundo, cheio de certezas e de "eu sempre disse". A questão é que grande parte dessas frases são pura e simplesmente falsas.
Um exemplo. Diz-nos César das Neves, gesticulando: "Nós temos um sistema de saúde pior que os outros e que gasta mais que os outros per capita" Daria imenso jeito ao argumento de um Estado gordo, que desperdiça e onde seria facílimo cortar que esta frase de César das Neves fosse verdadeira; mas não é. Portugal gasta menos em saúde do que a média da OCDE, quer quando falamos de despesa pública per capita, quer quando falamos de despesa privada per capita, como mostra o gráfico abaixo.
Podia dar-se o caso de sistema de saúde ser pouco eficiente e estar afundado em gastos desnecessários e consumos intermédios, mas, para mal de César das Neves, não é assim. Portugal apresenta melhores indicadores de qualidade e tem menos despesa percapita que a média da OCDE . Os EUA são o país que mais gasta e apresenta uma esperança média de vida de 78 anos, Portugal com quase ¼ do gasto alcança os 79 anos. Portugal está entre os 6 países mais eficientes da OCDE.
Um dia, alguém que diga coisas destas em programas de televisão será confrontado por mais de meia dúzia de blogues. Nesse dia poderemos ouvir mais serenamente pessoas como o Ricardo Paes Mamede (parabéns, Ricardo).