Voltas a mote alheio ou o Burqalção, conquista da Humanidade
Fiquei sensibilizado e intrigado com o manifesto anti-burqalção. Porém, falta-lhe ali qualquer coisa que a Fernanda não consegue alcançar. É que há mesmo coisas de homens e coisas de mulheres. Uns opinam sobre os outros, como é conveniente, mas se a nós nos escapam totalmente certas temáticas, as mulheres não ficam atrás. Não há sensibilidade masculina suficiente neste mundo para discorrer de forma convincente sobre TPM, tampões vs. pensos ou soutiens. Do mesmo modo, mulheres a debitar prosa sobre after shave, cancros na próstata ou certas comichões (you know what I mean) são discursos que não passam do baixo limiar das boas intenções. Não sabem do que falam. Lamento, mas não sabem mesmo.
A Fernanda (e acredito que a maioria das mulheres) não gosta dos ditos burqalções, mas os homens podem gostar deles. Têm o direito de gostar deles. A emancipação feminina permitiu às mulheres fugir ao espartilho e aos moldes masculinos que impunham às mulheres o que elas alegadamente deveriam ser, vestir e comportar-se, mas a gente pode fazer o mesmo, ou não? Também temos direito à nossa emancipação e a libertar-nos dos nossos espartilhos, certo? Quem tem XY nos seus cromossomas e é, portanto, dotado pela Mãe Natureza de certos apêndices exteriores, deverá estar mais interessado no seu conforto ou naquilo que as mulheres gostam? A escolha é deles, nossa, evidentemente. Tanto quanto me lembro de usar calções na praia, o uso comum era, noutros tempos, o de umas coisas apertadas, horríveis, que nos davam umas comichões monumentais e nos gelavam a alma (bela metáfora) e nos causavam encarquilhamentos embaraçosos e angustiantes quando entrávamos nas frias águas do Atlântico. Os burqalções, certamente desenhados e concebidos por uma alma masculina sensível, foram um bálsamo para os interstícios doridos da virilidade, embora com um custo na estética. Algo que, como as mulheres bem sabem, não é tudo. Não lhes queiras mal, Fernanda. A gente sabe que fica com ar de pinto calçudo, algures entre o palhaço e a avestruz, e que não há pose de George Clooney que o compense inteiramente; que as cores berrantes e os padrões havaianos são manobras do Demo para fazer desviar o olhar feminino. Mas digo e reafirmo, entre o no pasarán e o a História absolver-nos-á: tomemo-los como conquistas dos tempos modernos, males necessários mas menores do direito masculino ao conforto. Se isto não for suficiente, bom, desculpem qualquer coisinha. Ou talvez, num outro registo, habituem-se!