coisas verdadeiramente explicáveis (em que número vai isto?)
parece que houve quem, em post publicado ontem, estabelecesse sem sombra de dúvida que o destinatário deste meu post da mesma data só pode ser um antónio manoel figueiredo da costa figueira, que está, desde 1 de agosto segundo o diário da república, contratado por miguel relvas, ministro adjunto do governo psd/pp, para fazer para ele uns 'trabalhos e estudos na área da sua especialidade' (cito o despacho). ora, não tendo o meu post qualquer referência nem a nomes nem a postos específicos ou sequer a contratador denominado, não posso deixar de me ensimesmar com a certeza do autor da posta referida, que, imagine-se, ainda por cima escreve no mesmo blogue que o tal figueira. qual dos qualificativos mencionados no meu post -- 'pulha', 'prática habitual da calúnia e difamação', 'excelência no insulto gratuito e soez', 'ódio de morte a sócrates e a quem o possa ter defendido ou apoiado', 'ter como especialidade a filha da putice' -- terá levado o bloguer a considerar certeira a descrição de figueira? decerto a esta perplexidade só o próprio poderá responder, de preferência a quem assim vilipendiou estouvada, cruel e publicamente.
mas o post em causa merece mais anotação que a da manifesta perversidade com um co-blogueiro (coisa feia, mas é lá entre eles). é que segundo o autor, assumido membro do pcp, estabelece não há qualquer problema em que alguém com quem partilha um blogue - naturalmente revolucionário - ir cumprir funções que, presume-se, só podem ser de propaganda num gabinete do governo psd/pp (a especialidade do tal figueira é, parece, 'comunicação'), desde que aufira um ordenado. ser assalariado, então, permite perdão para qualquer crime cometido em funções, nomeadamente o de lesar os direitos sagrados dos trabalhadores. segundo quem assina o post, o problema está em alguém se escandalizar com poderem-se defender ideias por dinheiro -- esse escândalo só pode, explicita, advir de 'subordinação intelectual e dependência financeira'. pelo contrário, defender ideias em troca de uns milhares de euros mensais, mesmo não se tendo com elas, presume-se, qualquer concordância, é trabalho honesto, motivo de orgulho, e causa para que este excelente comunista salte de indignação contra quem ele depreende estar enojado com isso.
portanto, entendamo-nos: subordinação intelectual e dependência financeira não têm nada a ver com receber dinheiro para propagar e sustentar as ideologias de quem paga, não; tem a ver com, bom, qualquer coisa que não seja receber dinheiro para propagar e sustentar as ideologias sendo pago para tal: quiçá, dizer o que se pensa, de graça e, esperançadamente, com graça(e arrostando acusações de ser pago para isso, claro está).
enquanto não chegam esclarecimentos da direcção do partido -- jerónimo, como é? trair o proletariado, desde que paguem bem, é kosher? -- ficamos com esta nova cartilha comuna. avante, camaradas. juntem a vossa a outras vozes, mesmo da direita mais caceteira, desde que o salário seja bom, meta ajudas de custo e despesas de representação.
a não ser, claro, que esteja em causa uma sofisticada operação de sabotagem -- o que explicaria o facto, assumido pelo especialista figueira, de estar a perder dinheiro neste novo emprego, mas não é lá muito consistente com a defesa, mesmo se maldosa, que o colega dele pretende fazer (às tantas ninguém da soeiro o avisou, o que realmente até nem surpreende).
em adenda: o sempre inigualável ferreira fernandes.