Ir mais longe do que a Troika
O Documento de Estratégia Orçamental (DEO) apresentado na quarta feira por Vítor Gaspar esclarece o significado de ir mais longe do que a Troika. Ir mais longe do que a Troika não significa reconhecer que só existe uma verdadeira solução para a economia portuguesa com uma alteração radical da política europeia; é apenas o reforço da crença na famosa tese da austeridade expansionista. É que, no período 2012-15, o governo acha que pode cortar no consumo público (-6.5; -4;-1 e -2) mais do que foi previsto pelo FMI (-4.8; -4.7; 0; +0.1) e pela Comissão Europeia (-4.6; -2; -0.3; -0.2) sem que isso tenha qualquer impacto no valor do PIB. E isto não depende de qualquer melhoria do sector exportador. Não; este governo acredita mesmo que a austeridade adicional não só não tem qualquer impacto no consumo privado (não altera as previsões) como até vai dinamizar o investimento privado (garante uma queda menor em 2012 e uma recuperação mais rápida em 2013). Como disse Miguel Beleza: a única certeza que podemos ter em relação às previsões do ministro das finanças é que estão erradas.
Esvaziada que está a bala de prata da competitividade via desvalorização fiscal (tirando Paul Thomsen, Carlos Moedas e Álvaro Santos já ninguém acredita no milagre da TSU), e como Passos Coelho já disse que as eurobonds não fazem sentido e que a recuperação da economia portuguesa depende apenas de nós, o milagre no investimento privado é inteiramente justificado pelo reforço da confiança via austeridade e por quatro 'reformas estruturais' : privatizações e fim das golden shares, nova lei da concorrência, desregulação no acesso às profissões e desregulação no mercado de trabalho. Ou seja, pensamento mágico liberal. Isto não vai acabar bem.