Making a better tomorrow, tomorrow
Schäuble está com Gaspar - e anuncia um milagre: se a Europa não ceder às aparências (a austeridade e as reformas estruturais não estão a funcionar estão a empurrar a economia europeia para uma nova recessão) e se mantiver focada na essência das coisas (austeridade e as reformas estruturais funcionam por definição) tudo vai correr bem:
There is some concern that fiscal consolidation, a smaller public sector and more flexible labour markets could undermine demand in these countries in the short term. I am not convinced that this is a foregone conclusion, but even if it were, there is a trade-off between short-term pain and long-term gain. An increase in consumer and investor confidence and a shortening of unemployment lines will in the medium term cancel out any short-term dip in consumption.
Schäuble defende que mesmo que o curto prazo aparente ser uma catástrofe, o longo prazo vai compensar todos os custos. Porquê? Porque sim. Temos de sacrificar o presente em nome de amanhãs que cantam, e Schäuble tem a certeza que os amanhãs cantarão, porque está convencido disso. Aquilo que para muitos seria um sinal de cegueira e fanatismo ideológico, para Schäuble é apenas a virtude da perseverança. Isto é o oposto do que Keynes defendeu na Teoria Geral:
But this long run is a misleading guide to current affairs. In the long run we are all dead. Economists set themselves too easy, too useless a task if in tempestuous seasons they can only tell us that when the storm is long past the ocean is flat again.
O problema desta lógica de Schäuble (e Gaspar) não é tanto ser errada, mas algo pior: o facto de ser irrefutável e imune a todo e qualquer confronto com a realidade. No fundo, postulou-se a existência de uma verdade - austeridade e reformas estruturais são a solução para esta crise - que nenhuma realidade empírica pode invalidar. Schäuble parece, assim, empenhado em seguir a máxima de Steven Colbert: making a better tomorrow, tomorrow. E nós somos as cobaias desta experiência.