Apostasias e desatenções
No início da semana, o pastor Youcef Nadarkhani, convertido ao cristianismo muito jovem, era um ilustre desconhecido que engrossava as fileiras dos iranianos condenados à morte pelas mais espúrias razões. Hoje, o seu nome está nas primeiras páginas e editoriais da imprensa internacional de referência. Nadarkhani, de 33 anos, preso em 2009 por apostasia, poupado por um recurso do Supremo em Julho, viu o seu "crime" reexaminado por um tribunal de Rasht, num julgamento que terminou na 4ª feira. Na última sessão, o "criminoso" recusou, mais uma vez, a magnânima oferta judicial: repudiar a sua religião e converter-se ao islamismo dos seus pais. O tribunal provincial de Gilan condenou-o ao mesmo destino do pastor da Assembleia de Deus, Hossein Soodmand, executado em 1990 pelo mesmo "crime": morte por enforcamento.
Como refere o advogado do pastor, a apostasia não é, supostamente, crime no Irão, pelo que ele tem esperanças de que a sentença não seja concretizada. Esperemos que a mesma sorte espere os 7 bahai's que tentavam ministrar algum conhecimento aos jovens da sua fé, impedidos de frequentar a universidade, através do Baha'i Institute for Higher Education (BIHE). Um dia antes da sentença de Yocef, começaram a ser julgados no Tribunal Revolucionário de Teerão, sem direito a advogado, preso uns dias antes e, de acordo com o IINS, já foram condenados a 20 anos de prisão.
Junto as minhas às muitas críticas que ambos estes casos têm merecido e já assinei e subscrevi tudo o que encontrei para pedir liberdade para os presos do totalitarismo religioso. Só tenho pena de não ter encontrado nenhuma campanha ou sítio onde manifestar a minha indignação pelos três anónimos enforcados no mesmo dia em que o BIHE foi encerrado, "culpados" de lavat, o termo utilizado na "lei" islâmica para designar sodomia.
Como explicou Mahmood Amiry-Moghaddam ao The Independent, «As autoridades iranianas costumavam apresentar estes casos como violações de forma a tornar as execuções mais aceitáveis e evitar muita atenção internacional (...) este é o único caso em anos recentes em que a única base para a sentença de morte é uma relação homossexual». Mas parece que a atenção internacional anda um pouco distraída nos últimos tempos : foram muito poucos os artigos que a execução de 3 pessoas por homossexualidade mereceu...