A economia é uma arte, não uma ciência
Os senhores que ganharam o (chamado) Nobel partem do pressuposto que a economia deve aspirar ao estatuto epistémico das ciências naturais e estudar relações causais entre variáveis. Independentemente da sofisticação das suas técnicas estatísticas, este tipo de abordagem incorre numa petição de princípio: para além de um desejo de submeter a realidade a modelos matemáticos que garantam previsibilidade, qual a razoabilidade pressupôr que existe uma relação causal fixa entre variáveis macroeconómicas? Nenhuma. Este pressuposto não é válido por ser racional; é racional por validar um certo tipo de abordagem que alguns economistas consideram essencial, daí a petição de princípio. Se queremos compreender economia, perguntas do tipo 'como é que o PIB e a inflação são afectados por uma subida temporária da taxa de juro ou um corte de impostos?' ou 'o que acontece quando um banco central altera de forma permanente o seu objectivo de inflação ou um governo muda o seu objectivo orçamental?' só podem ter uma resposta: o efeito é contingente e depende inteiramente do contexto. Um dos exemplos onde esta obsessão em conhecer as relações causais entre variáveis tem falhado é na política monetária. Por exemplo, o BCE, que usa e abusa do tipo de modelos matemáticos que Sims e Sargent ajudaram a criar, acha que aumentar a base monetária causa necessariamente inflação. Que esta relação seja contingente, e não necessária, é algo que não cabe na cabeça destes teóricos. Não deixa de ser irónico que o Nobel deste ano tenha ido para dois economistas que desenvolvem modelos que tanto contribuiram para a crise actual e cujas técnicas estatísticas, por muito sofisticadas que sejam, de pouco ou nada nos servem para resolver os problemas com que estamos confrontados.