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Há quem escolha terraplanar o país para não perder a face

Paulo Trigo Pereira, especialista em Finanças Públicas do ISEG, confirma o que eu escrevi aqui e diz que não há nada nos números de execução que indique uma derrapagem orçamental que justifique as medidas anunciadas. Nuno Sousa Pereira, ex-director geral DGO GPEARI, idem: é difícil de perceber o que justifica medidas desta dimensão. Difícil, difícil não é, só que a explicação é inteiramente diferente daquela que Passos Coelho nos tenta vender.

 

O buraco não está na execução orçamental que consta dos boletins da DGO e do INE já conhecidos, porque o que justifica a necessidade de medidas adicionais não é o passado, mas sim o presente e, sobretudo, o futuro: desde Junho que os boletins da DGO confirmam uma desacelaração da receita do IVA, e, como diz Nuno da Sousa Pereira, é possível que a informação de Setembro tenha dado conta de uma queda muito forte nas receitas fiscais. Esta queda não vai ser invertida, porque as receitas dependem da conjuntura económica e esta vai agravar-se ainda mais. Ou seja, o tal buraco que dificulta a execução orçamental de 2011 e 2012 não foi herdado, como nos tenta vender Passos Coelho; é, isso sim, esperado.

 

Mas o buraco não está apenas nas receitas fiscais. Como nos diz o Negócios, Gaspar, ao contrário do que o PSD sempre defendeu, não acredita que as poupanças com consumos intermédios e as reestruturações na máquina do Estado (PREMAC, institutos, sector empresarial, etc) gerem os 1500 milhões inicialmente estimados. Ou seja, o que torna necessário fazer aquilo que sempre se disse que não se iria fazer resulta directamente do discurso demagógico sobre as gorduras do Estado, que até pode ter sido útil para enganar os eleitores e diabolizar o PS, mas de pouco serve para reduzir a despesa.

 

Passos quer desculpar-se com o passado porque não tem coragem para reconhecer duas coisas: que o seu discurso desde que foi eleito presidente do PSD era profundamente demagógico e assentava numa mentira e que, por causa da degradação muito significativa da conjuntura externa, os pressupostos do memorando se alteraram radicalmente, o que põe em causa a exequibilidade de todo o programa de ajustamento. Numa altura em que alguns países credores vêem desabar a sua narrativa sobre o não haver uma crise do euro mas sim de alguns países do euro, numa altura em que o mundo exige à Europa o mudar de políticas, numa altura em que, por causa desse tipo de políticas, há riscos de uma nova depressão mundial, é absolutamente extraordinário que seja Passos Coelho, primeiro-ministro de um país devedor, quem tudo faz para manter viva essa mesma narrativa. Gaspar fá-lo por cegueira ideológia; Passos tem razões mais prosaicas: por estar prisioneiro do discurso que lhe permitiu ganhar as eleições, prefere sacrificar os interesses do país a perder a face.

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