"barbárie consentida, a boçalidade celebrada e a estupidez oficializada"
Durante uns anos, de cada vez que se chegava a Outubro, começava a conversa sobre a praxe na minha primeira blogocasa, um dos temas em que a unanimidade reinava naquele antro. É ao Mouro que se deve a frase que dá título a este post e à Inês o excerto que se segue, comentário a um meu praguejamento sobre a invasão de Lisboa pelos morcegos, para mim incompreensível (eheh foi particularmente divertido vê-los, este ano, tão agasalhadinhos com temperaturas de 30 ou mais graus). "É o culto das atitudes mais grunhas, e mais grunhamente machistas: lembram-se da discussão de há uns anos, em que uns meninos queriam proibir (!!) o fado de coimbra cantado por mulheres? São aquelas roupagens patéticas a sugerir que os estudantes são alguma coisa à parte - o que em Lisboa nem é verdade. É uma tradição herdada do tempo em que os estudantes (os de Coimbra) eram rapazes de 17 anos de repente longe da família e livres para afirmarem a masculinidade tal como ela era entendida na altura. Uma altura em que não era qualquer um que estava na universidade a estudar para doutor, e portanto ao orgulho masculino se acrescentava uma superioridade social.É o culto do arroto e da bordoada, da brejeirice serôdia e do álcool inexperiente.".
Como imaginam, pelo que atrás foi dito, foi com satisfação que li as notícias que referiam que o reitor da Univesidade do Minho exortou os «os alunos a que se “oponham activamente” a práticas que ponham em causa à “liberdade, respeito e dignidade humana”.». Naturalmente que gostaria de o ver ir mais longe, que os exortasse a não pactuarem com praxe alguma, mas já é um ponto de partida.Se calhar, e como há dias me dizia uma amiga, para matar a praxe de vez é preciso que as universidades - seus alunos e professores - percebam que mecanismos de integração activa são fundamentais e quando forem, de facto, criados a praxe perderá uma das suas "funções simbólicas" e o seu anacronismo será evidente para todos.
Aproveito o post para apresentar o Praxis, um filme de Bruno Cabral que será apresentado no próximo DocLisboa. Ao mesmo tempos 3 sugestões de leitura, "Na universidade e na vida, integra-te na cobardia", do Daniel Oliveira, "As praxes e o Santo Graal" do Rui Bebiano e, mais antigo, "A praxe, a latada e o machismo anacrónico" de Elísio Estanque.