sabores da silly season
A alheira é o formato português para quase tudo. Faz-se de tudo, tudo lá cabe. "Encher chouriços" é uma velha e consagrada expressão nacional, designando um certo agir português, uma certa visão da realidade e do mundo. Mas um chouriço é um velho formato, desajustado às realidades presentes e aos desafios do futuro. O que está a dar é a alheira, muito mais flexível, dinâmica e adequada aos tempos de crise. É um modelo que permite todas as soluções: é encher com aquilo que se quiser, atar e fechar fechadinha, com um belo rótulo a rematar. Não precisa de mostrar o que está lá dentro, nem como foi feita, nem que bizarro critério presidiu à sua confeção. Bate, assim, a pita ou o wrap aos pontos. Afinal, toda a gente sabe que temos, por exemplo, um partido-alheira (o BE, também conhecido como "omelete de esquerda"), uma maioria-alheira (com deputados que não sabem o que fazem, e outros, o que hão-de fazer) ou um governo-alheira (mistela de políticos com tecnocratas que não sabem bem como lá foram parar nem como combinam). Temos até um presidente-alheira (que enfarda a eito e à vista, geralmente via facebook). Esta que aqui mostro é anterior a tudo isto. Andava eu à procura de uma de bacalhau com café ou de atum com meia-de-leite, mas não havia. Nem sequer de entrecosto com chocolate. Só havia esta, que não me encheu as medidas. Foram, claro, devaneios de época estival. Devia ter aproveitado o ananás com presunto, ai ai. Mal sabia eu que este outono nos reservava um OE-alheira de óleo de fígado de bacalhau.