Laboratório de ideias
A curto prazo, se queremos estimular o crescimento económico a competitividade poderíamos reduzir a taxa social única, mas não temos margem orçamental para o fazer. A medida que foi aqui discutida passa pelo aumento temporário do horário de trabalho, o que será uma lufada de ar fresco para muitas das empresas, que ficarão mais compettivas e criar mais riqueza e postos de trabalho (Negócios)
Álvaro Santos Pereira lá reconheceu que não é possível ganhar competitividade através da redução da TSU. Mas fê-lo pelas piores razões. É que, ao contrário do que pensa Álvaro Santos Pereira, o problema não está na ausência de margem orçamental, mas na total ineficácia e ineficiência deste tipo de medidas. Quando Vítor Gaspar disse que a redução da TSU funciona muito bem mas é nos modelos da universidade, devia ter ido mais longe: pelas mesmas razões, o aumento de meia hora de trabalho também só resulta nos modelos teóricos. Se o tivesse feito, teria evitado que o Ministério da Economia fizesse figuras tristes com (supostos) estudos que (supostamente) demonstram a eficácia de mais este game changer da competitividade. Onde se lê que a meia hora adicional vai melhorar o desempenho das empresas portuguesas em 4%, devia ler-se: os modelos de universidade que encontrámos para justificar o injustificável dizem-nos que esta medida vai melhorar o desempenho das empresas portuguesas em 4%. É uma diferença que faz toda a diferença, porque os modelos teóricos deixam de fazer sentido assim que o pensamento teórico desce à terra e se confronta com a realidade portuguesa. Como escreveu Pedro Romano no blog Massa Monetária, o choque de competitividade da meia hora tem dois problemas:
1) De acordo com o INE, não há, ao contrário do que é pressuposto pelo Ministério das Finanças, empresas da indústria transformadora a trabalhar próximo dos limites da capacidade (em média, pelo menos). A taxa de utilização da capacidade instalada foi de 74,5% em Setembro, em linha com os valores dos meses anteriores;
2) As próprias empresas dizem que o principal obstáculo à produção é a falta de procura, bem longe de qualquer outro tipo de constrangimento.
Ou seja, o aumento do horário de trabalho só dinamizaria as empresas e o emprego numa situação teórica que nada tem que ver com o actual contexto da economia portuguesa. No contexto actual, caracterizado por procura insuficiente e excesso de capacidade, das duas uma: ou não tem qualquer efeito ou aumenta o risco de destruição de emprego.

