Confesso que de início pensei que fossem snapshots de um teledisco do Pimba Mix Vol. 14, mas depois esclareceram-me que não, hrrmm, disparate, pá. É um deputado moderno e jovem, pfff, que velhadas me saíste. Não fiquei convencido, alguém estava a entrar comigo. Até que tomei conhecimento do que escreve e das opiniões que emite. Tudo passou então a fazer sentido. Alguém que diz no twitter que "Um tipo pode mudar de mulher ou marido, ate de partido ha razoes bem plausiveis p isso, mas homem q é homem nao muda de clube!" sobe inevitavelmente na minha consideração, porque funde, numa genial síntese epistemológico-estrafilocóquica, uma modernidade ousada (um homem mudar de marido) com a boa tradição luso-marialva ("homem que é homem") e a inevitável pontinha de futebol. Depois visitei a página da JSD. A mensagem do líder tocou-me; sobretudo a parte, de fino recorte literário, em que diz que "A JSD tem de dar o exemplo! Tem de andar à frente dos outros partidos, e do seu próprio Partido (o PSD). A JSD tem de andar à frente do seu tempo e, sobretudo, do descrédito e imobilismo em que a Política e os políticos têm caído." Achei o "andar à frente" (ainda por cima, de tudo e mais alguma coisa) leve e suspeitamente revolucionário, mas compreendi que são ímpetos naturais da juventude.
Por fim, tive uma pequena comoção ao ler a opinião publicada ontem no i, uma pequena pérola de excelente português, ideias inovadoras e arrojo argumentativo. A crónica podia chamar-se "quando chegamos a meio já só falta metade", mas isso é o que diria um espírito simples. É preciso meter as pessoas, entorpecidas pelo bolo-rei e pelas filhós, a pensar um bocadinho, caramba. O texto começa por invocar os Descobrimentos, coisa ousada e nunca antes vista para elevar o moral das tropas. Até fala em "ultrapassar o Adamastor", bela e inédita metáfora, inspiração de um misto de auto-estrada com fervor patriótico, como se o dito fosse um velho chaço a circular a 40 à hora na A2. E ultrapassar pela direita, presumo, porque pela esquerda é sempre de franzir o sobrolho. Desconfio que o nosso garboso deputado pensa que o Adamastor era um grande calhau algures na África Meridional que metia medo aos marujos (como ouvi uma vez uma jornalista afirmar), mas isso, citando a imortal Teresa Guilherme, "agora não interessa nada". O discurso abre com magnífica chave de ouro gongórica: "Chegámos ao fim do ano mais importante dos últimos tempos e entramos no ano mais decisivo da próxima década". Um simplório diria apenas que 2011 foi importante e está a acabar e que vem aí 2012. Mas um simplório não chega a deputado nem a lider da JSD. Nem escreve que "Salvar Portugal não se faz de olhos vendados e consciência ignorada" (só não percebi se é a boa, se a má-consciência) ou que "os nossos professores e estudantes têm de ser ainda melhores, os médicos, os advogados, os padeiros, os electricistas, os artistas, os vendedores, os pais e os filhos têm que ser ainda melhores pais e filhos, os amigos terão de ser ainda mais amigos". Não há crise que resista a uma prosa destas. Que pessimismo ou desânimo resiste a um "Se há povo para o qual não há missão impossível, esse povo é o nosso"? Vai-te Martin Landau, xooo Tom Cruise, salvé Duarte Marques.
Depois de um brilhante percurso, entre o evocativo e o votivo (desejar que, no próximo ano, as empresas "sejam mais solidárias nas exportações" remete certamente algum mistério esotérico), remata com a enumeração das qualidades lusitanas, um passo além do Candidato Vieira, que cantava -lembram-se?- o "Portugal alcatifado, bebe o vinho e canta o fado". Marques vai muito além do banal "temos queijo e temos paio" vieirino; relembra que Portugal, entre muitas outras qualidades (como o "melhor bolo de chocolate do mundo"), possui "uma das línguas mais faladas do mundo, o melhor treinador e o melhor jogador de futebol". Extraordinário. Um perfil de estadista perfeito. Não sei para que perdem os jornais tempo a fazer entrevistas à Popota. O deputíder tangerina bem que acenou para o texto no facebook e no twitter, mas andemos todos distraídos. Para mim chegou: já desfiz as malas com que planeava enviar os meus filhos por FedEx para Luganville daqui a uns dias. É que ocorreu-me que, na senda de Passos Coelho (líder da JSD entre 1990 e 1995) Duarte Marques pode um dia sentar-se em S. Bento. Talvez acompanhado do candidato Vieira em Belém, Portugal passará definitivamente de alcatifado a relvado. Só temo que Bruxelas lhe cace o talento entretanto e lhe atribua altas tarefas na Comissão Europeia. Ou, quiçá, na ONU, na NASA, no FMI, para o infinito e mais além. Um rapazote para a eternidade.