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Uma promessa "twiteriana"

O conceito de psicopatia (e o de psicopata) sofreu alterações ao longo dos tempos. De uma maneira simplista poderemos dizer que o seu significado inicial coincidia com o que actualmente se usa para definir perturbação da personalidade. Numa fase posterior passou a designar um tipo particular de perturbação da personalidade.

 

Foi Kurt Schneider, um psiquiatra alemão, quem provavelmente mais se dedicou à conceptualização daquilo a que chamou “Personalidade Psicopática”, nela englobando todos os desvios da normalidade cujas características nosológicas não eram suficientes para que se considerassem doenças mentais francas, incluindo nesses tipos aquele que hoje entendemos como sociopata ou perturbação anti-social da personalidade. Schneider definia a personalidade psicopática como uma personalidade patológica cujo portador sofria e/ou fazia sofrer a sociedade, distinguindo os seguintes tipos: (1) hipertímicos,(2) depressivos, (3) inseguros, (4) fanáticos, (5) carentes de atenção, (6) emocionalmente lábeis, (7) explosivos, (8) desalmados, (9) abúlicos e (10) asténicos.

 

Em traços gerais aquilo que hoje se refere como psicopata ou sociopata seriam, na classificação de Schnneider, os “desalmados”, e em termos (e linguagem) mais formais integram a perturbação anti-social da personalidade no sistema classificativo da Associação Americana de Psiquiatria (DSM).

 

As perturbações da personalidade são situações que interferem com o funcionamento do sujeito porque alteram a apreensão do mundo que o rodeia, a expressão das emoções e o seu comportamento social. Um estilo de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial para o próprio e (ou) para os que com ele se relacionam são as características que determinam a identificação de uma perturbação de personalidade. Por serem vagas estas características são necessárias mas não suficientes, razão pela qual se operacionalizaram critérios de diagnóstico.

 

A perturbação da personalidade é definida pelo DSM-IV-TR como um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura, tendo em conta os substratos étnico, cultural e social, é global e inflexível, tem início na adolescência ou no início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina sofrimento ou incapacidade.

 

O DSM subdivide as perturbações da personalidade em três clusters:

 

Cluster A "pessoas com características bizarras ou excêntricas":

Perturbação Paranóide da Personalidade: padrão de desconfiança e suspeição onde as motivações alheias são interpretadas como malévolas

Perturbação Esquizóide da Personalidade: padrão de alheamento da vida social e restrição da expressividade emocional

Perturbação Esquizotípica da Personalidade: padrão de desconforto agudo no relacionamento próximo, distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico

 

Cluster B "pessoas com características dramáticas, emocionais ou inconstantes":

Perturbação Anti-Social da Personalidade: padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros

Perturbação Estado-Limite (Borderline) da Personalidade: padrão de instabilidade no relacionamento interpessoal, auto-imagem, afectos e impulsividade marcada

Perturbação Histriónica da Personalidade: padrão de excessiva emocionalidade e comportamentos apelativos

Perturbação Narcísica da Personalidade: padrão de grandeza, necessidade de adoração e ausência de empatia

 

Cluster C: "pessoas com características ansiosas e medrosas":

Perturbação Evitante da Personalidade: padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade à avaliação negativa

Perturbação Dependente da Personalidade: padrão de comportamento submisso e pegajoso, associado a uma excessiva necessidade de cuidados dos outros

Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade: padrão de preocupação com a ordem, perfeccionismo e controlo

 

Uma perturbação da personalidade não é uma doença em sentido médico, quer isto dizer que não é possível definir uma etiopatogenia, um curso, um prognóstico e um tratamento próprios, daí que o sistema classificativo americano tenha resolvido o problema deitando mão de uma classificação por eixos, colocando no eixo I as “verdadeiras” doenças psiquiátricas e no eixo II as perturbações da personalidade. Esta diferenciação é importante em termos clínicos e também em psiquiatria forense pelas implicações legais que daqui advêm.

 

(Espero que a Rita e a Sandra tenham ficado minimamente esclarecidas, não consigo fazer muito melhor no contexto de um post curto e dirigido a não especialistas)

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