Da loucura
A S&P pode ter muitos defeitos, mas, na última sexta feira, limitou-se a dizer o óbvio. O governo português não gostou e queixa-se de quebras metodológicas, sem cuidar de saber se essa quebra é ou não justificada pela realidade. Gaspar acha que não é, porque entende que a única realidade relevante são os esforços do governo em cumprir o programa de ajustamento. Como o esforço existe, a decisão da S&P é infundada. Ou seja, Gaspar não aceita que a S&P diga que, mais do que uma crise de alguns países mal-comportados, estamos perante uma crise do próprio euro. A Comissão Europeia também não aceita a decisão da S&P, porque acha que a UE deu um passo decisivo para ultrapassar esta crise na Cimeira histórica de dia 9 de Dezembro. Que o Fiscal Compact possa ser um pacto de suicídio colectivo é coisa que não lhes passa pela cabeça. Merkel, com a lucidez que se lhe conhece, olha para a decisão da S&P como um sinal de que é necessário avançar, rápido e em força, para a implementação das decisões que a S&P considera erradas, o que mostra que, ou não leu o comunicado da S&P, ou vive numa realidade paralela. Em suma: o mundo suspeita que a Europa enlouqueceu e a Europa dedica-se, alegremente, a confirmar a suspeita.

